Tréguas com o dedo no gatilho

Ninguém respeitou um cessar-fogo e ninguém quer o acordo do Egipto. Haverá uma terceira via?

Os dois lados do conflito fizeram tábua rasa da resolução que os 15 países com assento no Conselho de Segurança aprovaram e que exigia um cessar-fogo duradouro que deveria ter começado ontem, abrindo caminho a uma negociação para a paz. Do lado israelita, a necessidade de destruir os túneis que ligam a Faixa de Gaza a Israel continua a servir de justificação para a interrupção de qualquer cessar-fogo. Em Telavive, ainda se chegou a falar de um “cessar-fogo sem restrições”, que é como quem diz umas tréguas com o dedo no gatilho. Mas não durou muito até que os dois lados decidissem apertar o gatilho.

No dia em que começou o Eid al-Fitr, a festa em que se comemora o fim do Ramadão, e que era suposto ser um dia de tréguas, o balanço é de pelo menos mais 13 palestinianos mortos, entre os quais várias crianças e, do outro lado da barricada, pelo menos quatro israelitas vítimas de um rocket.

Nem os apelos vindos de um aliado tradicional de Israel permitiram um cessar-fogo. Barack Obama expressou “grande preocupação quanto ao resultado desta crise em Gaza e quanto às mortes civis”. Os apelos mais dramáticos chegaram das Nações Unidas. Ban Ki-moon disse que ambos os lados se comportaram de um modo irresponsável e “moralmente errado”. “É uma questão de vontade política. Eles têm de mostrar a sua humanidade enquanto líderes, tanto israelitas como palestinianos.”

Um cessar-fogo continua por agora a ser uma miragem e nenhum dos dois lados do conflito parece aceitar as propostas do Egipto como ponto de partida para uma negociação de paz. Mas a sugestão feita por Obama ao primeiro-ministro israelita – de trabalhar com a Autoridade Palestiniana – pode vir a ser uma terceira via que ajude a esvaziar o conflito, sem que Netanyahu perca a face internamente.
 

  



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