A mão na massa

Assim como um cesto nos ajuda a moderar o que compramos – se for pesado de mais, é porque estamos a exagerar – também é bom pagarmos sempre em dinheiro.

Vendo o terceiro episódio do iluminado The Men Who Made Us Spend da BBC 2, escrito e apresentado por Jacques Peretti, percebi que os vendedores – sejam lojistas de tijolo ou online – fazem-nos comprar mais quanto mais nos separarem do acto de pagar com dinheiro da nossa carteira.

Seja o PayPal, o cartão de crédito ou de cliente ou o One Click da Amazon, gastamos sete vezes mais quando pagamos virtualmente, sem sentirmos as carteiras mais leves por causa disso.

Os sábios falam no tight fit – o ajuste apertado – que só ocorre quando se paga em cash. Aconselhou um deles: "Se não quiser gastar mais dinheiro do que tem, pague tudo – até a renda – em notas".

O cartão de débito, parecendo inócuo ao pé do de crédito, por acabar quando a massa do mês se acaba, é igualmente alienante. Pegar na máquina e carregar em OK é muito mais fácil (e logo caro) do que tirar notas e moedas da carteira.

Recorrendo à linguagem do poker português do século XX: tem de ser "a doer", com notas em cima da mesa. O crédito (para não falar nos juros) é impossível: é evidente que não sobra dinheiro. Mas o que mais vale é a chamada à realidade. Olha-se para a carteira, vê-se pouco e pensa-se: "Tenho de chegar ao fim do mês com isto". Não se compra. E sobrevive-se por causa disso.

Ganhamos com a realidade do real.

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