Mutilação genital também?

Véu integral, sim. Perseguição e expulsão de uma comunidade (os cristãos) da região onde esta vivia quase desde que existe, seguramente há mais de 16 séculos, sim. Mutilação genital feminina, provavelmente não.

O ISIS, recentemente rebaptizado Estado Islâmico (EI) conseguiu expulsar quase todos os cristãos de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, que conquistou em Junho. Há dias, ordenou o uso do véu islâmico integral: “Qualquer mulher que não esteja comprometida com este dever e se guie pelo glamour terá de prestar contas e arrisca um castigo severo para proteger a sociedade e protegê-las da libertinagem”, diz o EI num comunicado citado pela Reuters em Bagdad.

Na quinta-feira, a ONU avisou que o EI ordenara que todas as meninas e mulheres nas zonas que controla teriam de se submeter à mutilação genital feminina, uma prática presente em 29 países e que afecta 130 milhões de pessoas (principalmente em África, mas também no Médio Oriente e na Ásia).

No Iraque, onde o EI controla Mossul e áreas em redor da cidade do Norte, mas também zonas a ocidente, entre Bagdad e a fronteira síria, e localidades a leste e sul da capital, a ordem, que teria sido dada através de uma fatwa (édito religioso), afectaria potencialmente 4 milhões de crianças e mulheres.

“Isto é novo no Iraque, particularmente nesta área, é uma grande preocupação e precisa de ser enfrentada”, disse em Erbil, no Curdistão iraquiano, a coordenadora humanitária da ONU para o Iraque, Jacqueline Badcock. As declarações de Badcock, numa videoconferência para Genebra, correram mundo. Mas podem não corresponder à verdade. O EI desmente a autoria da suposta fatwa (em princípio, só um religioso competente pode emitir uma fatwa, mas o que não falta é gente sem autoridade a dar ordens religiosas).

Alguns media, como a BBC e a TV Al-AAan, do Dubai, concluíram que, muito provavelmente, a fatwa é falsa. Jenan Moussa, da Al-AAan, escreveu no Twitter que os seus contactos em Mossul não sabem de nenhum édito sobre mutilação genital feminina. A BBC cita analistas de media que notam as gralhas do texto e o facto de a assinatura ser ISIS (e não EI), nome que o grupo deixou de usar. Escreve a BBC no seu site: “Vários bloggers sugerem que a alegada fatwa que circula nas redes sociais pode ter como objectivo desacreditar” o grupo. Como se isso fosse preciso.

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