Peixeiras do mercado de Matosinhos vão ter designers e estilistas como vizinhos

Guilherme Pinto, Jorge Barreto Xavier e Guta Moura Guedes inauguram hoje a Quadra, uma incubadora de design que arranca com 15 projectos.

Foto
O Mercado Municipal de Matosinhos vai ser diferente a partir de hoje MIGUEL NOGUEIRA

A venda de galinhas vivas e ovos frescos ou de peixe acabado de amanhar convive bem com bancas de hortaliça fresca e enchidos do Minho ou Trás-Os-Montes. Mas a vizinhança deste comércio tradicional com ateliers de joalharia contemporânea e oficinas de moda também pode ser muito produtiva.

Pelo menos é no que acreditam os novos inquilinos do Mercado Municipal de Matosinhos, que, a partir deste sábado vão ocupar a vintena de espaços ali criados pela Quadra - Incubadora de design, vocacionada para acolher, apoiar e promover “empresas e projectos capazes de responder ao desafio de trazer soluções e ideias na área do design que se destaquem pela inovação, pelo arrojo e pela sustentabilidade das suas propostas”.

A estilista Maria Gambina, uma das novas inquilinas desta incubadora (cujo concurso para selecção de propostas arrancou há quase um ano) resume o que sente numa frase: “O espaço é arejado e luminoso, a vizinhança é boa; tenho a certeza de que vou trabalhar bem e começar a comer melhor”.

O projecto “Primeira dança” de Maria Gambina, com o qual a estilista portuense tenciona criar vestidos de noiva alternativos e acessíveis, foi um dos seleccionados para integrar a incubadora. O júri ficou convencido com a sua ideia de criar alternativas “aos vestidos de princesa, caríssimos e ultrapassados” que a deixaram “deprimida” num passeio pela Baixa do Porto em Agosto passado. “Vi, logo de seguida um grupo de jovens rastafaris, todas tatuadas, a fazer uma despedida de solteira. E pensei: onde é que estas raparigas vão arranjar um vestido de noiva? 

Foi aí que surgiu este projecto, que se chama Primeira Dança porque será inspirado na música que as noivas hão-de escolher para abrir o baile”, explicou. Experimentar o apoio de uma incubadora foi a decisão seguinte. 

O período de submissão de candidaturas à incubadora decorreu de 1 a 10 de Setembro de 2013 e a selecção foi feita pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD), a parceira da Câmara Municipal de Matosinhos neste projecto, que também vai instalar na Quadra o seu núcleo de investigação — o ESAD IDEA.  

O concurso, a que se apresentaram mais de 60 projectos, previa três tipologias de incubação: o coworking, para a incubação de ideias ou projectos, compreendendo o apoio à criação de empresas; a incubação, para apoio a empresas muito jovens nas várias áreas do design e, por fim, os projectos âncora, para empresas já consolidadas, sempre numa lógica curatorial dos projectos incubados. 

Os projectos seleccionados integram as várias áreas do design, tendo a diversidade sido um dos critérios de escolha: gráfico, arquitectura, equipamento, produção têxtil, moda, vídeo e multimédia, joalharia (ver Caixa). 
Segundo José Bártolo, um dos responsáveis da Comissão Instaladora da Quadra - Incubadora de Design e Director de Investigação do ESAD IDEA, a qualidade do projecto e adequação à identidade da iniciativa foi igualmente analisada, assim como foi avaliada a viabilidade financeira do modelo de negócio apresentado e o potencial de crescimento do projecto ou empresa.

Expectativas em alta
Quando na manhã deste sábado o secretário de estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e a comissária do Ano do Design Português, Guta Moura Guedes, acompanharem o presidente da câmara municipal de Matosinhos, Guilherme Pinto na inauguração desta nova incubadora, encontrarão muita gente carregada de enormes expectativas.

Toni Grilo, um luso-descendente já bem implantado no mercado francês onde assina o design de produto de várias marcas mudou-se há um ano para o Norte do Portugal. E está feliz com a proximidade às indústria do mobiliário, e com as vendedoras do mercado tradicional que avista pela janela. “Também são inspiradoras, não tenho dúvidas”, dizia ao PÚBLICO esta semana, em vésperas da inauguração. 

Andreia Oliveira, designer de moda, e Tiago Carneiro, designer de comunicação, responsáveis da Klar, uma empresa e marca que já tem vendido para algumas lojas em Londres, louvaram o facto de aparecer um projecto com as características da Quadra. “Somos uma empresa pro-animal, com uma ética muito firme na utilização de matérias primas nas peças que produzimos, e por nisso custa-me um pouco olhar para aquelas galinhas vivas, aqui ao lado, confesso. 
Mas em tudo o resto só posso manifestar a minha satisfação pela simpatia das senhoras, que nos acolheram com muita curiosidade e boa disposição”, diz Andreia. Tiago sublinha a expectativa que lhe traz estar inserido numa incubadora com outros designers de vários ramos: “Temos sempre muito a aprender uns com os outros”, justifica. 

É também com isso que está a contar Joana Ribeiro, que tem uma marca própria de joalharia desde 2010 e que ali vai montar a sua oficina de produção. “Sou nada e criada em Matosinhos, por isso é um satisfação enorme poder voltar a este mercado, que conheci tão bem, e aproveitar estas iniciativas que voltam a trazer jovens a espaços tradicionais. É aqui que eu vou instalar todo o meu processo criativo,  conseguir o meu cunho, e instalar”. 

Emanuel Barbosa é um designer de comunicação que assume a representação europeia da revista “Casa International”, com sede em Pequim, China, onde são apresentados projectos de design de todo o mundo e na qual se tem esforçado por mostrar “a fase borbulhante” que vive o design português. 

Também ele vai ficar instalado na Quadra, assumindo a sua vontade de organizar várias iniciativas que ocupem os espaços do mercado, como visitas de delegações internacionais, a realização de workshops etc. “Esta incubadora vai ser a semente de muitos projectos interessantes, sustentada em contactos, em networking. Não tenho grandes dúvidas”, asseverou.

Sugerir correcção
Comentar