Sob suspeita, separatistas pró-Rússia impedem acesso ao local dos destroços

Os rebeldes que controlam a região onde o avião da Malaysia se despenhou não permitiram o acesso da equipa de inspectores da OSCE e possuem as duas caixas negras.

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Inspector da OSCE dialoga com militante separatista Dominique Faget / AFP

A investigação sobre o que provocou a queda do avião MH17 da Malaysia Airlines no Leste da Ucrânia promete ser mais uma das arenas de combate entre o Ocidente e os separatistas pró-russos que controlam grande parte da região. Na sexta-feira, a missão da OSCE enviada para investigar o local foi impedida de aceder aos destroços e irá ensaiar nova tentativa este sábado.

Antes da chegada dos inspectores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), os rebeldes tinham garantido que iriam conceder acesso ao local onde se despenhou o Boeing 777. Foi a própria organização que o anunciou, em comunicado, após a realização de uma conferência à distância entre representantes da Ucrânia, da Rússia, da OSCE e de líderes rebeldes.

Uma equipa de 30 inspectores de vários países foi imediatamente enviada para o terreno para proceder à recolha de indícios que ajudem a perceber se o avião foi efectivamente abatido e, nessa eventualidade, que tipo de arma foi utilizada. Porém, a comitiva não conseguiu aceder ao local onde se encontram os destroços. Segundo o embaixador suíço no organismo, Thomas Greminger, os inspectores "não tiveram a liberdade de movimentos necessária para o seu trabalho". A comitiva irá tentar novo acesso no sábado.

A OSCE reiterou os pedidos “de acesso seguro, protegido e imediato ao local e às áreas em redor” e apelou “a que todos preservem a zona de impacto intacta”. Ainda antes da chegada dos membros da OSCE, os rebeldes revelaram ter encontrado as duas caixas negras do aparelho, mas desconhece-se o que irão fazer com elas.

A necessidade de uma investigação às causas daquele que foi o mais grave acidente aéreo da última década foi, de resto, um apelo partilhado por praticamente todos os responsáveis políticos. Tanto Barack Obama como Vladimir Putin disseram ser prioritário dar início a averiguações no terreno antes de se tirarem ilações definitivas. Ambos não deixaram, no entanto, de avançar as suas próprias suspeitas. O Presidente norte-americano sublinhou que o míssil foi disparado a partir de uma zona controlada pelos rebeldes, enquanto o seu homólogo russo culpou o Governo de Kiev por continuar a combater os separatistas.

“Isto não foi um acidente. Isto aconteceu por causa do apoio da Rússia”, disse Barack Obama. “Os investigadores têm de ter acesso ao local. E o esforço para devolver os que perderam a vida aos que os amam tem de ser feito agora”, afirmou.

Enquanto as investigações não começam, continuam as especulações, com ambos os lados a acusarem-se mutuamente. Na manhã desta sexta-feira foram divulgadas gravações em áudio de conversas entre supostos elementos dos rebeldes separatistas e um homem identificado como oficial das Forças Armadas russas.

Numa delas, segundo a versão dos Serviços Secretos da Ucrânia, o comandante rebelde Igor Bezler conversa com o russo Vasil Geranin, apresentado como coronel da agência de serviços secretos do Exército da Rússia. "Acabámos de abater um avião. Caiu perto de Ienakievo", diz Igor Bezler. Numa outra conversa, dois homens que os serviços secretos ucranianos dizem ser combatentes separatistas admitem que o seu lado foi responsável pelo desastre.

"Temos 100% de certeza de que era um avião civil", diz um dos homens, identificado como "Major". "Encontraram armas?", pergunta o seu interlocutor, identificado como "Grek". "Nada, só pertences de civis, material médico, toalhas, papel higiénico", responde "Major".

Numa terceira gravação, um homem identificado apenas como sendo militante dos separatistas diz a um outro, identificado como Nikolai Kozitsin, um comandante cossaco, que "é um avião de passageiros". "Caiu perto de Grabovo, há muitos corpos de mulheres e crianças", diz.

"Na televisão dizem que é um [Antonov] An-26, de transporte militar. Mas as letras dizem 'Malaysian Airlines'. O que é que estava a fazer em território ucraniano?", perguntava o homem identificado apenas como "militante". "É porque vinham trazer espiões. Por que é que passaram por aqui? Estamos em guerra", responde o homem que os serviços secretos ucranianos dizem ser um comandante cossaco, Nikolai Kozitsin.

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