Ciências agrárias em Évora: “A decisão mata-nos”

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A investiagação agrária dificilmente será mantida, dizem os investigadores António Carrapato

A classificação de Bom atribuída ao Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM) foi mal recebida pelos docentes do organismo que integra a Universidade de Évora. Mário Carvalho, professor catedrático no Departamento de Fitotecnia, é peremptório quando analisa as consequências. “A decisão mata-nos.” Os cerca de 250 mil euros que o ICAAM recebeu em 2014 já eram insuficientes. “Davam apenas para manter as infra-estruturas do instituto e para algum investimento estratégico.”

Sem financiamento, que a partir desta avaliação deverá ser de 40 mil euros por ano, a investigação “dificilmente será mantida”, admite Augusto Peixe, vice-presidente do ICAAM, enquanto a sua directora Teresa Pinto Correia realça a consequência mais negativa: “Retira competitividade aos nossos projectos de investigação.” Este pormenor “tem um efeito psicológico nos jovens investigadores”, que é sempre “mais difícil” captar para um instituto que está inserido numa região de baixa densidade.

 Na realidade, a avaliação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) “coloca quem está acima e abaixo de uma linha”, e qualifica com base num procedimento que “não distingue as especificidades de cada sector”, prossegue a directora do ICAAM. Ao contrário do que aconteceu na avaliação de 2008, em foi atribuída ao instituto a classificação de Muito Bom, desta vez “nem sequer vieram ao instituto”.

 Toda a avaliação “foi feita por ‘online’ e por especialistas estrangeiros”. Dos oito envolvidos na tarefa, “só um era da área das ciências agrárias e floresta, os outros têm formação em ciências da Terra”, salienta Teresa Pinto Correia.

Mário Carvalho realça pormenores que não foram tomados em linha de conta pela FCT. “Na região do Alentejo não lidamos com grandes empresas. Os agricultores são, na sua esmagadora maioria, pouco qualificados e com idade avançada.” O desenvolvimento económico do sector é fraco, com um grau de formação da maioria dos empresários muito baixo, muitos sem formação técnica. A sua aprendizagem é feita na base da transmissão de conhecimentos entre as gerações. “Este facto conduz a uma fraca racionalização técnica e científica do processo produtivo.”

É neste cenário de enormes carências no campo da investigação aplicada que o instituto tenta projectar o conhecimento que elabora. Mário Carvalho destaca uma enorme lacuna, que tarda em ser preenchida: “Continuamos a reclamar a instalação de um centro de investigação para o regadio.” Não há nada do género em todo o Alentejo, apesar dos 120 mil hectares que já começaram a ser regados no Alqueva. Por outro lado, “temos ainda dois milhões de hectares de solos aráveis e florestais em sequeiro que não podem ser abandonados”.

Os investigadores dizem que a imensidão do trabalho a realizar não se compagina com as exigências impostas pela FCT. “Boa parte do trabalho realizado pelo ICAAM é com os produtores e os seus problemas, mas o nosso avaliador não quer saber de investigação aplicada. Não está nada preocupado com os problemas práticos”, observa Mário Carvalho.

Mesmo assim, “o que publicámos duplicou desde 2008, não é inferior do ponto de vista científico” ao que é publicado por outros. “Fazemos investigação de excelência sobre gestão sustentável dos agro-sistemas mediterrânicos, a sustentabilidade da agricultura, sobre ciência e tecnologia animal, medicina veterinária e saúde pública, ciência e tecnologia vegetal e alterações climáticas e impactos na agricultura.”

 

 
 

   

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