Hoje há sol, praia e Massive Attack no Super Bock Super Rock

O lema do festival é "Meco, sol e rock & roll", mas rock & roll só amanhã com Eddie Vedder. Hoje é dia de Massive Attack e de Disclosure, no arranque electrónico do Super Bock Super Rock.

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O vocalista dos Massive Attack num concerto no Coliseu dos Recreios em 2003 Miguel Madeira

Em 2010 e 2011, o festival Super Bock Super Rock foi notícia por alguns concertos (de Prince aos Arcade Fire) mas também pelos problemas organizativos, ao nível da fluidez do trânsito, do estacionamento ou do pó, sentidos na Herdade do Cabeço da Flauta, perto da Aldeia do Meco (Sesimbra).

Em 2012 e 2013, os acessos e o espaço foram melhorados. O esforço da organização (da Música no Coração) em criar uma imagem mais estabilizada é reforçado este ano com parcerias tendo em vista a preservação do ambiente, pelo que a edição que decorre entre quinta e sábado poderá funcionar como aquela em que as questões organizativas serão esquecidas e a música, dividida por três palcos, passará a ser o centro das atenções. Eis alguns dos destaques.

Os cabeças de cartaz

É possível que o grande teste ocorra na sexta. É que para esse dia prevê-se enchente, por causa da presença do americano Eddie Vedder (sábado, 1h), figura geracional que marcou os anos 1990 com os Pearl Jam.

Na actual digressão a solo, o americano tem apresentado um extenso repertório, com canções dos Pearl Jam, mas também de Bob Dylan, Bruce Springsteen ou dos Beatles. Com os Pearl Jam, ou a solo, o cantor já actuou por diversas vezes em Portugal, aproveitando essas ocasiões para a prática da sua outra grande paixão para lá da música – o surf.

Quem também já tocou por diversas vezes em Portugal, desde que se formaram na alvorada dos anos 1990, foram os ingleses Massive Attack (quinta, 23h40), que esta noite constituem o principal chamariz para o primeiro dia do evento. Com cinco álbuns (do histórico Blue Lines ao último Heligoland), o projecto é mais conhecido pelo aturado trabalho de laboratório em estúdio, mas a verdade é que, ao longo dos anos, também tem inovado em palco, sempre com espectáculos cenicamente inventivos, servindo uma música onde a electrónica se torna misteriosa por entre guitarras nebulosas, elementos de rock ou vozes soul.  

Da Austrália virão os Tame Impala (quinta, 22h), que há dois anos, com o álbum Lonerism, deram um salto enorme em termos de projecção, aprofundando uma sonoridade psicadélica, com arremedos de pop ou folk, e que ao vivo ganha contornos de grandiosidade quase épica. Com qualquer coisa de grandioso é também o espectáculo do francês Woodkid (sexta, 23h10), que desde que lançou no ano passado o álbum The Golden Age nunca mais parou, com uma pop sumptuosa, com arranjos de cordas e metais, que em palco ganham dimensão barroca.

Outros que cresceram imenso nos últimos anos são os ingleses The Foals (sábado, 23h20), que, no ano passado, através do álbum Holy Fire, mostravam uma música enérgica que capta a vibração do rock em cenário dançante. Passaram em poucos anos de banda de culto a aspirantes a banda de estádio, o mesmo se podendo dizer dos ingleses Kasabian (sábado, 1h05), descendentes directos do rock britânico dos anos 1990 (dos Oasis aos Primal Scream), ou seja, sabem bem a história da cultura pop e em palco expõem-na com trejeitos e energia devedora do rock.  

Os grupos de culto 

Os ingleses Disclosure (quinta, 1h55) podem ainda não ter a abrangência de outros projectos que integram o cartaz do festival, mas arriscam-se a sair do Meco como um dos mais vitoriados, graças aos temas do álbum Settle (2013), o primeiro dos irmãos Guy e Howard Lawrence. Ou seja, estamos perante música de dança que não recusa a estrutura convencional da pop, e que tem esse efeito contaminador de em palco transformar tudo à sua passagem num ritual comunitário de celebração.

Outra dupla muito popular, os The Kills (21h50, sábado) são sempre garantia de uma música rock ambígua, urbana e felina, com o inglês Jamie Hince e a americana Alison Mosshart num constante diálogo sensual. Qualquer coisa de semelhante poderia ser dito dos dois Sleight Bells (sexta, 22h30) ou de outra dupla americana, os Cults (sexta, 20h). No primeiro caso estamos perante canções enérgicas assentes em electrónica, ruído e sensibilidade pop, enquanto no segundo nos deparamos com uma sonoridade pop luminosa, ao mesmo tempo elegante e harmónica.

No início da carreira a americana Cat Power (sexta, meia-noite) era conhecida pelas histórias de concertos gloriosos e alguns deles fracassados. Hoje a cantora atormentada preferida dos canais alternativos da folk e do rock está diferente, embora continue a cantar os desvarios da existência, e os que são invariavelmente esquecidos pelas estatísticas, como poucas.

Quem de certeza irá apresentar temas novos é Noah Lennox, ou seja, Panda Bear (quinta, 00h55), membro fundador dos Animal Collective, com carreira sólida também a solo, preparando-se para lançar novo álbum este ano, o mesmo devendo acontecer com o norueguês Erlend Oye (quinta, 18h50), que nos Kings of Convenience, ou a solo, é garantia de pop luminosa e espectáculo com sorriso ao canto da boca.

Já com novo disco para apresentar, os Metronomy (quinta, 20h30) de Joseph Mount vêm apresentar as canções pop do álbum deste ano, Love Letters, enquanto o guitarrista e teclista dos Strokes, Albert Hammond Jr. (sábado, 20h30), tentará mostrar que existe mais vida, com rock lá dentro, para lá dos seus companheiros nova-iorquinos de banda, embora os seus dois álbuns a solo tenham passado relativamente despercebidos.

Os portugueses

Tem sido um ano bom para a música popular feita em Portugal, e o cartaz do festival reflecte-o através da presença de alguns nomes que lançaram álbuns este ano. É o caso de Legendary Tigerman (sexta, 21h20), alter-ego de Paulo Furtado, que este ano lançou novo álbum, True, manifesto para uma música rock esquálida, num mergulho pela autenticidade.  

Outros que lançaram álbum este ano foram os Dead Combo (sábado, 22h40), garantia de espectáculo sério e criativo, com momentos de melancolia, mas também de electricidade, à volta de A Bunch of Meninos, o seu último registo. Outro concerto esperado é o de Capicua (sexta, 22h10), que, através do lançamento do álbum Sereia Louca, deu um salto enorme em termos de visibilidade. Nas suas canções está presente o imaginário hip-hop, mas acima de tudo são temas habitados por mulheres complexas e não meras figuras romantizadas.   

Quem está de regresso é Pedro Coquenão, ou seja, o projecto Batida (sábado, 2h30), que lançará o segundo álbum no final de Setembro, depois de um disco homónimo inicial com dois anos. Não custa nada imaginar que neste concerto se farão ouvir alguns temas desse novo registo, que promete navegar pelas águas do afrohouse e de outras tipologias com tanto de poesia como de fisicalidade lá dentro.

 

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