Um cenário promissor, emergente, para o Brasil

De novo, sobressai a crucial responsabilidade de todas as nações e, entre elas, este Brasil de que falo agora, pela educação de suas crianças, de seus jovens, de seus adultos em qualquer idade ou circunstância.

Venho, com toda a minha vibração brasileira e especialmente carioca, na contramão da crítica que muito frequentemente se faz ao Brasil. E o faço na intimidade de um diálogo direto com a nação irmã portuguesa e, por extensão, com o mundo, até onde chegue esta voz.

Assim, não quero trazer aqui prognósticos lúgubres, apoiados em crises do presente. Quero, antes, destacar um cenário promissor, emergente, de uma avaliação apreciativa de um povo que ainda acredita em si mesmo apesar de suas inegáveis fragilidades, com humildade, aqui reconhecidas. Busco então, nas imagens de um passado histórico e significativo, o ponto de apoio para a conexão simbólica com a imagem do presente e o impulso na projeção da imagem do futuro deste país. Ainda que no campo da imagem, quero resguardar a esperança que precisa permanecer em cada um dos mais de 200 milhões de brasileiros.

Abre-se então, diante de mim, a memória de um cenário que, coincidentemente, tem tudo a ver com esse meu diálogo familiar de desabafo, com a nação portuguesa. E foi num passado remoto, de um encontro magistral com 50.000 crianças de nossas escolas públicas do Rio de Janeiro, lado a lado com 5000 normalistas do Instituto de Educação, escola de formação de professoras primárias. Sob a regência estupenda do maestro Heitor Villa-Lobos (hoje regente no Céu), entoava-se, na celebração da Independência do Brasil, hinos pátrios, ao som de notáveis bandas marciais. E tudo acontecia no campo acolhedor do Clube de Regatas Vasco da Gama, como se fosse o coração português! Vivi plenamente aquele momento inesquecível, cujo clímax ocorreu quando diante de uma plateia emocionada, lotando a metade da arquibancada, frente a frente à outra metade, vestida de azul-marinho e branco (era assim o uniforme da escola primária e das normalistas, por uma inteligente coincidência ou não, da mesma cor), emergiu uma imagem inesperada e impressionante de uma Pátria gloriosa e retumbante, tocada, cantada e aplaudida por milhares. É que, no apogeu da solenidade, as normalistas foram chamadas pelo grande maestro a se levantarem, enquanto a multidão de crianças permanecesse sentada. Logo, num instante de energia e convicção, normalistas que preenchiam letras gigantes, pintadas naquela metade lotada da arquibancada, se levantaram! Era o Brasil escrito em relevo. De pé! Uma surpresa para a multidão. E foi esse Brasil que ficou dentro de mim e por certo de quem estava lá – um Brasil levantado pelo Magistério, de ponta a ponta, ovacionado pela sociedade, em toda a sua extensão. Naquele momento, o Brasil já depositava sua esperança na educação de nossas crianças cujas vozes ecoavam como um clamor que ficaria indelével na memória nacional responsável, que jamais se apagaria.

Hoje, num cenário do presente, já não somente milhares de crianças do Rio de Janeiro, mas milhões de jovens do Brasil e dos arredores do mundo inteiro, se juntam no mesmo Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, sob a liderança do extraordinário Papa Francisco, alimentando a esperança por um mundo mais feliz, mais irmanado nos ideais espirituais mais elevados, do seu encontro com um mesmo Deus. De novo, é a aposta na educação dessa juventude que marcha heroicamente, sacrificando-se no holocausto da justiça e do amor fraterno para a conquista plena de um mundo melhor. É, portanto, o mesmo clamor pela educação total que fortalece a inteligência e a solidariedade humana, na busca do conhecimento que dignifica e das virtudes que sustentam o pleno desenvolvimento humano. A força jovem daquela deslumbrante maioria adolescente era então o grito nas ruas, nas instituições e nos altares, na justa cobrança pelos seus direitos e o valente compromisso com seus deveres de cidadania.

A marcha prossegue e ainda hoje, agora, em 2014, no fervor e na complexidade magistral de nações de todos os continentes, juntam-se pessoas e raças de todos os continentes, já não mais somente na cidade do Rio de Janeiro, mas nas várias localidades deste país, tocando o solo de todas as suas regiões mais longínquas para, na energia saudável e empolgada de uma Copa Mundial de Futebol, celebrarem, em línguas diferentes, mas num só grito, muito mais do que as vitórias no esporte, o congraçamento entre povos que merecem viver como irmãos. É, portanto, acima de todos os sucessos individuais, a festa de um triunfo único que é possível perceber e sentir nos sinais visíveis da hospitalidade, do respeito, da alegria, da cordialidade, da generosidade, da simplicidade no sucesso e da humildade na derrota, na celebração de cada avanço e na aceitação de cada derrota, sustentadas pelo entendimento e pela esperança de novas conquistas.

E, de novo, sobressai a crucial responsabilidade de todas as nações e, entre elas, este Brasil de que falo agora, pela educação de suas crianças, de seus jovens, de seus adultos em qualquer idade ou circunstância. É para lá que o Brasil quer caminhar. É, com certeza, para lá que vai o Brasil! E que Deus nos proteja!

Educadora, psicóloga e consultora em Avaliação, coordenadora do Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio

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