EUA defendem auditoria a "todas as denúncias razoáveis de fraude" no Afeganistão

"A legitimidade das eleições está em jogo", avisou o chefe da diplomacia americana, de visita a Cabul para tentar salvar as presidenciais do fracasso.

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Kerry encontrou-se com Abdullah (na foto) e Ghani para tentar encontrar um compromisso que permita resolver o impasse Jim Bourg/Reuters

O secretário de Estado norte-americano, numa visita organizada de urgência a Cabul para mediar o conflito entre os dois candidatos à presidência do Afeganistão, pediu a Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah que cheguem a acordo para uma investigação alargada às denúncias de fraudes, sublinhando que o próximo chefe de Estado tem de ser reconhecido por todos os afegãos.

“Este é um momento crítico para o Afeganistão. A legitimidade das eleições está em jogo”, avisou John Kerry no final da primeira de várias reuniões – com os candidatos, os responsáveis políticos e representantes internacionais – para desarmadilhar uma crise aberta pela segunda volta das eleições, a 14 de Julho. Os resultados preliminares dão a vitória a Ghani, com 56% dos votos, mas Abdullah, que na primeira votação recolheu 45% e agora se ficou pelos 43,5%, denuncia fraudes maciças e afirma ser o legítimo vencedor das eleições.

Temendo que o Afeganistão siga o caminho do Iraque – a retirada da NATO deverá acontecer até ao final do ano – Washington quer garantir que as eleições não se tornam no primeiro acto de um conflito político capaz de lançar o país de novo numa guerra entre facções, etnias ou clãs. Para o evitar, avisou já que qualquer tentativa para assumir o poder por meios ilegais o levará a retirar o apoio financeiro e militar de que o Governo de Cabul depende.

“É importante que o Presidente seja reconhecido pelos afegãos como tendo sido eleito num processo legítimo e que o seu governo possa unir todo o povo e liderá-lo no futuro”, afirmou Kerry, pedindo aos candidatos que aceitem uma investigação “a todas as suspeitas razoáveis de fraude”.

No início da semana, a comissão eleitoral anunciou que, na sequência de conversas entre os candidatos, vão ser recontados os votos em 7100 assembleias de voto, ou seja, quase um terço do total. A candidatura de Abdullah propôs uma auditoria a 11 mil mesas e, numa tentativa de compromisso, a missão das Nações Unidas (Unama), propôs que seja reaberta a contagem em oito mil secções. Qualquer dos números envolve boletins suficientes para inverter o resultado – um milhão de votos separa os dois candidatos –, mas não é garantido que critérios serão usados para anular votos suspeitos.

Ghani, que ainda não proclamou vitória, disse ser favorável a “autoria intensiva e extensiva” às denuncias de fraude, dizendo que quer assegurar “a integridade e legitimidade” da votação. Abdullah, com quem Kerry se encontrou em seguida, foi mais evasivo, limitando-se a elogiar “o compromisso da diplomacia americana para salvar o processo democrático”. Fontes citadas pela AFP adiantam que não existe ainda um compromisso sobre a recontagem, tendo Abdullah pedido tempo para ponderar a proposta da Unama.

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