O desenho de todas as maneiras na Est Art Fair no Estoril

Luís Mergulhão criou a Est Art Fair para responder ao crescimento internacional do mercado de arte contemporânea.

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A fotografia Feedback Situation, de Dennis Oppenheim, uma das obras expostas

O desenho não é uma mera técnica artística, pode ser um tema e estar em diversos suportes. Com o desenho como tema, a Est Art Fair, feira internacional de arte contemporânea, abre nesta sexta-feira a sua primeira edição ao público e está no Centro de Congressos do Estoril até domingo.

Luís Mergulhão, director da feira e com experiência na organização e produção de eventos ligados à cultura, sentiu vontade de criar este evento ao ver que não havia em Portugal nenhuma feira de arte contemporânea. Há cerca de um ano e meio começou a visitar feiras internacionais em todo mundo com esta ideia na cabeça e investiu “centenas de milhares de euros” para pôr de pé a Est Art Fair, diz, com o apoio de alguns patrocinadores, e da Câmara Municipal de Cascais, que cedeu o espaço.

Na feira onde estão ao todo 35 galerias de nove nacionalidades diferentes, só 14 são portuguesas, porque a aposta é no mercado global. “Portugal está em crise, mas o mercado da arte contemporânea está em crescimento e no ano passado o valor estimado de transacções foi de 35 mil milhões de euros. Um sector é cada vez mais procurado não só por coleccionadores e amantes de arte mas também por investidores, por ter um risco menor que o investimento em fundos financeiros, acções ou bens imobiliários, por exemplo”, explica Luís Mergulhão. A feira que se organiza neste fim-de-semana é atractiva para os profissionais da arte contemporânea – e também para os seus amantes e curiosos, reforça o director – por acontecer no Estoril durante o Verão e por ser a última da temporada. "Há uma lógica de resumo e ponto de encontro", diz.

A Est Art Fair tem uma concepção diferente das restantes feiras internacionais, diz o seu director, por estar organizada segundo um tema: o desenho. Para além da habitual área das galerias – com 26 representações internacionais –, a organização criou ainda uma secção de Solo Projects e a exposição Desenhar o Mundo, ambas com a curadoria dos portugueses Delfim Sardo, Filipa Oliveira e do brasileiro Moacir dos Anjos. O desenho foi aqui pensado “numa concepção expandida. Não temos só a grafite sobre o papel – pode haver desenho numa fotografia, num vídeo, numa escultura", diz o director.

“Aquilo que resulta desta exposição é o entendimento de que o desenho não é uma disciplina artística tradicional, é uma forma de pensamento. O artista pensa através do desenho”, explica Delfim Sardo, um dos curadores da exposição Desenhar o Mundo. Aqui entram 18 artistas de dez países diferentes e o resultado é um conjunto de obras que têm o desenho em fotografia, em instalação vídeo, e até de som.

“Um exemplo de como a exposição é diversificada é a obra de Helena Almeida, uma gravação de som em que a ouvimos a fazer um desenho, não a vemos”, diz Delfim Sardo. Há ainda a fotografia Feedback Situation, de Dennis Oppenheim, em que o fotógrafo norte-americano aparece a desenhar nas costas do filho e a criança tenta repetir o mesmo desenho nas costas do pai.

Em Solo Projects, nove artistas apresentam instalações, algumas delas criadas propositadamente para este projecto. Para Delfim Sardo reuniu-se ali  “a mais alta qualidade daquilo que se está a fazer com o desenho contemporâneo”.

E porque os livros de artista, “e não sobre artistas”, são “uma área emergente em todo o mundo” –  diz Luís Mergulhão –, há também a Library of Celsus, uma livraria com seis expositores de França, Espanha, Portugal e Brasil. A par das exposições, há um programa de Art Talks, conversas que vão juntar 17 profissionais e estudiosos de arte para discutir temas como "Livros de artistas", "Desenhar", "Coleccionar Desenho" e "Curadoria de Desenho". 

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