Saída de pároco de Canelas (Gaia) motiva vigília com cerca de três mil pessoas

A reivindicação pela permanência de um pároco visto como "muito cativante e amigo" motivou na noite de segunda-feira uma vigília silenciosa na freguesia de Canelas, concelho de Vila Nova de Gaia, que contou com cerca de três mil pessoas.

Perto da meia-noite e antes de chegarem até ao adro da igreja de Canelas, onde vão permanecer em silêncio "com velas acesas durante algum tempo", os paroquianos de Canelas percorreram cerca de dois quilómetros pelas ruas da Freguesia, cumprindo o mesmo trajecto da procissão em honra de São João Batista, que se realizou a 24 de Junho passado.

À frente do cortejo, três crianças empunhavam uma faixa onde se lia "Nós queremos o nosso Padre Roberto na nossa Paróquia", mensagem semelhante à colocada num pano suspenso que ladeava a Rua Padre Costa, junto ao Centro Social de Canelas.

E foi exactamente entre a eucaristia e a procissão de dia 24 que os paroquianos desta freguesia de Gaia ficaram a saber que a Diocese do Porto tinha tomado a decisão de transferir o padre Roberto Nunes Sousa, que há oito anos era o responsável máximo desta paróquia, conforme relatou à agência Lusa um dos impulsionadores da vigília desta noite.

A Lusa tentou obter uma reacção junto da Diocese do Porto e fonte desta estrutura indicou que há expectativa de que o padre Roberto Nunes Sousa reúna com o bispo do Porto "até ao final desta semana", remetendo para depois da reunião quaisquer esclarecimentos sobre o eventual afastamento do padre.

"Ele fez-nos [aos paroquianos] três comunicados em momentos diferentes. O último foi nessa data e com muita tristeza. Ele fez relatos de várias situações que ditam esta decisão da Diocese, mas nós não aceitamos, porque é uma decisão unilateral. Não compreendemos o silêncio total da Diocese", descreveu Miguel Rangel, do Movimento "Uma Comunidade Reage!".

Segundo Miguel Rangel, este movimento já fez um "pedido formal" ao bispo do Porto, António Francisco dos Santos, mas "sem sucesso até ao momento", estando a ser preparado um abaixo-assinado que o responsável do "Uma Comunidade Reage!" garantiu ter "ultrapassado já as cinco mil assinaturas".

"Vamos continuar neste registo de respeito, mas vamos continuar a reivindicar ser ouvidos, receber uma explicação e, sobretudo, que o senhor padre Roberto não vá embora", declarou Miguel Rangel.

Juntamente caminharam vários movimentos daquela paróquia de Gaia, entre os quais o Grupo dos Peregrinos de Fátima de Canelas, que explicaram à Lusa estar "ali a rezar para que não levem embora um padre tão amigo e tão cativante".

"Há pessoas que nunca iam à eucaristia e começaram a ir. E muitas pessoas de fora da nossa paróquia passaram a vir para aqui, o que gera ciúmes em outros párocos. É um jovem com tantas ideias, tão amigo, tão motivador Uma inspiração. Os outros [párocos de outras paróquias] sentem-se ameaçados", contaram Ruben Silva e Rute Santos, também do Grupo dos Peregrinos de Fátima de Canelas.

A par deste relato sobre os "ciúmes" de padres vizinhos, os paroquianos de Canelas contaram um episódio com a colocação da estátua em honra de um antigo pároco, o padre Gabriel, que já faleceu, tendo saído da Freguesia "também contra a vontade do povo".

Ao que indicaram alguns participantes na vigília desta noite, o padre Roberto Nunes Sousa "não é contra a colocação da estátua", mas terá questionado o custo da mesma, considerando que o dinheiro era "melhor gasto em outras coisas".

"Nós nada temos contra a homenagem ao padre Gabriel. Nem é dar razão ou não ao padre Roberto, mas se o motivo for esse, não se justifica mesmo porque ele está, como sempre, a olhar pelo bem da paróquia de Canelas", disse Miguel Rangel, segundo o qual o pároco está "sensível" com estas "demostrações de carinho", mas quer "preservar-se", sem "participar presencialmente".

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