Para Paulo Macedo, "a greve dos médicos foi concertada com a CGTP"

Em entrevista ao Diário Económico, o ministro da Saúde diz que o protesto desta terça e quarta-feira, convocado pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam), se insere num "conjunto de acções concertadas com a luta partidária".

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Paulo Macedo enfrenta esta semana a segunda greve do seu mandato. A primeira foi em 2012 Daniel Rocha

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, já tinha dito na segunda-feira não compreender a greve dos médicos desta terça e quarta-feiras, convocada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam) . E agora voltou à carga, em entrevista ao Diário Económico , acusando este movimento de ser motivado politicamente e concertado com a CGTP, central da qual a Fnam é afecta, argumentando que não há matérias de carácter laboral que não estejam a já a ser negociadas e resolvidas.

Para Paulo Macedo, as razões apresentadas para avançar com a greve são "difusas", de "cariz genérico" e "claramente em termos políticos", como referiu segunda-feira à tarde em Portalegre. “O próprio aviso de greve da Fnam é omisso quanto a razões concretas de foro laboral, apresentando uma multiplicidade de questões que, pela sua natureza, não são passíveis de estarem concluídas”, afirmou na entrevista publicada hoje, onde também acusa a greve de fazer parte de “um conjunto de acções concertadas com a luta partidária e foi antecipada pela CGTP no dia 26 de Maio”.

Ao jornal Expresso Diário, o ministro diz que, ao manter o protesto, a Fnam “faltou ao acordo escrito obtido na sexta-feira numa reunião tripartida [também com o Sindicato Independente dos Médicos]”. A Fnam refuta uma acusação que considera “falsa” e “muito grave”, dizendo que nada foi assinado”.

Falando aos jornalistas em Portalegre, à margem da inauguração das obras de ampliação e requalificação do serviço de urgências do hospital de Portalegre, num investimento de 246 mil euros, considerou que a iniciativa "não é construtiva" para o país. "Eu não compreendo a greve. Nos sindicatos aduziram 22 motivos e a Ordem dos Médicos, se não me engano, 56, portanto se eu quiser apresentar 70 motivos posso sempre apresentar os mais diversos", afirmou.

Assinalando que tem mantido diálogo com os sindicatos e com a Ordem dos Médicos sobre os problemas que envolvem o sector, Paulo Macedo considerou que a greve, de dois dias, não surge de uma "perspectiva credível" e, sobretudo, "construtiva", uma vez que o país saiu, recentemente, de uma situação de emergência económica e financeira.

"O nosso Serviço Nacional de Saúde [SNS], felizmente, continuou a responder [à crise] durante este tempo todo, e muito com o esforço dos médicos, e, por ainda estarmos numa situação de crise, eu penso que ainda se justifica menos este tipo de actuação de greve, como mais uma vez se vai verificar, que vai prejudicar exclusivamente os utentes do SNS e não os outros portugueses", declarou.

Federação espera forte adesão
A Fnam, que convocou o protesto para terça e quarta-feira, manifesta-se convicta de que a greve terá uma grande adesão, na dimensão da "indignação" destes profissionais de saúde contra medidas do Governo que, acredita, estão a destruir o SNS. O protesto conta com o apoio da Ordem dos Médicos, mas, ao contrário da greve de há dois anos, não terá a participação do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) que, no dia em que foi anunciada esta forma de luta, explicou que não aderia.

Ao contrário da greve de 2012 motivada por questões relacionadas com os contratos de médicos tarefeiros, as carreiras médicas, as baixas tabelas salariais e a degradação da “qualidade dos cuidados de saúde, agravando as dificuldades de acesso aos cuidados de saúde pelos portugueses”, o protesto desta semana centra-se em questões legislativas: os médicos defendem a necessidade de revogação, anulação ou rectificação de portarias e despachos produzidos pelo Ministério da Saúde, nomeadamente sobre a reorganização da rede hospitalar, o código de ética conhecido como “lei da rolha”, e a medicina do trabalho.

"Nós já transmitimos que a greve convocada pela Fnam é uma greve que não tem justificação laboral, não tem justificações concretas, muito pelo contrário", considerou o ministro na visita a Portalegre.

Ao PÚBLICO, o vice-presidente da Fnam, Mário Jorge Neves, reforçou que os documentos, “apesar de aparentemente desgarrados, escondem um fio condutor”. E deu como exemplo a portaria da reorganização dos hospitais, que “prevê a destruição de maternidades e serviços de especialidade”. Além disso, acrescentou, retomam-se muitos dos problemas invocados para a greve de há dois anos que, quanto a ele, nunca foram resolvidos.   

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