Três perguntas a Mário Jorge Neves: “A radicalização das pessoas e o apoio à greve é muito grande”

Vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos espera adesão semelhante à que se atingiu em 2012.

O vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) considera que o Ministério da Saúde tem feito um “boicote claro” às negociações, pelo que entende que não havia outra alternativa à greve. Mário Jorge Neves acredita que a adesão poderá ser semelhante à de 2012, já que tanto médicos como utentes estão mais “radicalizados”.

Dos 22 motivos que apresentaram para esta greve de dois dias, quais são os principais? O que vos fez achar que este era o momento?
O Ministério da Saúde foi deixando protelar a resolução integral de alguma questões, como o descanso compensatório dos médicos, os regulamentos internos das instituições, a avaliação de desempenho e a não resolução da passagem dos médicos ao regime das 40 horas. Verificámos que havia aqui uma atitude de boicote claro ao que tinha acordado com os sindicatos. Há ainda as portarias da “lei da rolha” e da categorização dos hospitais, que é o maior atentado alguma vez feito ao Serviço Nacional de Saúde, porque o que pretende é destruir completamente a rede pública de hospitais e arrastar com isso o despedimento maciço de profissionais de saúde. Em termos de interlocução negocial este ministério não tem credibilidade e transformou a mentira em doutrina oficial.

A FNAM conta com o apoio da Ordem dos Médicos nesta greve, mas desta vez o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) ficou de fora. Porquê?
Essa é uma boa pergunta para fazer ao secretário-geral do SIM. Naturalmente que respeitamos a autonomia de cada estrutura, mas as ilações práticas que retiramos da leitura [da situação do SNS] são diferentes. Nós e a Ordem dos Médicos considerámos que chegou a altura de acabarmos com esta farsa e de mostrarmos o profundo descontentamento que existe ao nível dos médicos e dos doentes. Esta nossa luta confunde-se com a luta dos cidadãos de terem acesso a cuidados de saúde de qualidade.

A greve de 2012, nas contas dos sindicatos, teve adesões na ordem dos 95%. Neste ano partem mais divididos. Isso não pode de certa forma esvaziar o protesto?
Do que vemos no terreno, a radicalização das pessoas e o apoio é muito grande. Tudo aponta para que a adesão, para já no plano teórico, seja muito semelhante à que conseguimos há dois anos. A parte clubística de ter sido a FNAM [e não o SIM] a emitir o pré-aviso de greve é algo que já me parece secundarizado. Mesmo com números inferiores, uma adesão que ronde os 90% não tira peso político à greve. 

  

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