A receita para mudar o estado da nação

Em mais de quatro horas de debate no Parlamento, o essencial ficou por responder.

Podia ser uma sessão parlamentar ordinária, podia ser um debate quinzenal. A única diferença foi que o debate sobre o estado da nação se prolongou por mais de quatro horas, o que o tornou aborrecido, já que os temas, recorrentes, foram tratados com a mesma ligeireza e crispação de sempre. O sound bite do dia foi a frase do primeiro-ministro que disse querer fazer de Portugal uma sociedade de “pleno emprego”. Na teoria económica, o conceito de pleno emprego aplicado ao mercado de trabalho não significa que não exista desemprego; quer dizer tão-só que numa situação teórica de equilíbrio (entre a oferta e a procura) todos os trabalhadores que aceitem um salário de equilíbrio podem ser empregados. É uma situação teórica e não se sabe em que nível de emprego está Passos Coelho a pensar quando fala em “pleno emprego”.

Não será com certeza na actual taxa de desemprego, que ultrapassa os 14%. E como quer Passos Coelho colocar a economia a caminho do pleno emprego? Defende um “verdadeiro compromisso, um projecto de concertação nacional”, que aposte na qualificação, não só através do ensino regular mas também da “aposta progressiva no ensino dual, profissional e vocacional”. É pouco. Se a qualificação fosse a panaceia para todos os males de que padece a nossa economia, não teríamos tanta emigração qualificada e tantos licenciados e técnicos qualificados no desemprego.

O PS trouxe uma outra receita: pediu o aumento do salário mínimo, o fim da contribuição extraordinária de solidariedade nas pensões, a redução do IVA da restauração e a dinamização da economia "através do investimento público". Mas também não explica como é que o Estado pode abdicar das receitas dos impostos e onde é que vai desencantar dinheiro para o investimento público.
 

  



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