Uma cadeira para Maradona, o dueto de Álvaro Siza e Frank Gehry e outros assentos de Paredes para o mundo

Segunda edição da Art on Chairs de Paredes começa em Setembro e já tem pares para novas cadeiras, mas também protocolo que une a autarquia do distrito do Porto à capital e orçamento duplicado

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John Malkovich e Diego Maradona são alguns dos nomes envolvidos na segunda edição de Duets MARWAN NAAMANI/AFP

A história do design – e de um certo engenho humano - pode contar-se a partir de um objecto basilar: a cadeira. E a história do projecto Art on Chairs, que em Setembro tem a sua segunda edição, é normalmente contada a partir de uma série desses assentos, inspirados em figuras conhecidas e trabalhados por designers e arquitectos. Já lá se sentaram Cristiano Ronaldo ou Cavaco Silva e agora será a vez de Diego Armando Maradona e Durão Barroso, mas também do arquitecto Frank Gehry, do actor John Malkovich ou do piloto de Fórmula 1 Jenson Buton. E até o Cais do Sodré, em Lisboa, se vai recostar em cadeiras novas.

Face mais visível do Art on Chairs, que se estreou em 2012 e recebeu o prémio RegioStars da Comissão Europeia (CE), os Duets 2014/2015 serão então o do ícone argentino Maradona com o designer Pedro Sottomayor, mas também Lula da Silva por Toni Grilo, do presidente da CE pelo designer Paulo Parra, e de Buton por José Viana. Gehry e Siza juntam-se numa dança que já tem epílogo: nesta edição será o Pritzker português a desenhar o que seria o canadiano em versão cadeira, na próxima invertem-se os papéis e Gehry pensa Siza como assento. Há ainda quatro pares por anunciar, como precisou Susana Marques, a coordenadora do Art on Chairs, esta terça-feira na apresentação da segunda edição do evento no Museu do Design e da Moda (Mude), em Lisboa - mas sabe-se já também que Malkovich envergará a sua capa de designer para criar uma cadeira inspirada na actriz Vitória Guerra e que o escritor brasileiro Paulo Coelho será também homenageado.

Mas o Art on Chairs tem, como muitas cadeiras, outras pernas e braços para além do seu rosto feito de nomes célebres. É um corpo que, no último ano, ganhou reconhecimento internacional e nacional, gerando parcerias como a prevista para esta programação de 2014/15 com o próprio Mude, com a exposição Como se pronuncia design em português?, comissariada pela directora do museu e que em Setembro estará em Pequim, regressando a casa, a Paredes e a Lisboa, ao Mude, em Novembro. 

A ideia da cidade do distrito do Porto foi pôr em prática aquilo que há décadas se pede à indústria: uma aliança de valorização. Usar “design e criatividade como forma de estimular a indústria de Paredes”, precisou Celso Ferreira, presidente da autarquia que contém “um cluster industrial”, como sopesou António Costa, presidente da Câmara de Lisboa. As duas cidades unem-se para fazer da capital, que já é “um grande mercado”, “uma montra da indústria nacional”, remata Costa. Paredes tem números para suportar a sua vontade de fazer negócio: representa 400 milhões de euros anuais, metade do volume de negócios do sector do mobiliário em Portugal; concentra cerca de 800 fábricas de mobiliário; o Art on Chairs envolve 38 dessas empresas, 64 designers, cerca de 400 objectos produzidos ou prototipados e resulta de um investimento de dois milhões de euros (o dobro da primeira edição), um financiamento da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e da autarquia. 

Lisboa surge aqui também como destinatária do concurso-convite Desfrutar o Tejo. Com curadoria do professor da Universidade de Aveiro Vasco Branco, dele deve sair novo mobiliário urbano para a requalificação do Cais do Sodré e Largo do Corpo Santo para 2015, projectada por Bruno Soares. Tanto o arquitecto quanto o docente frisam o que estas peças têm mesmo de ter: a zona é “um nó de transportes importantíssimo e muito complexo”, diz Soares, e é preciso “dar condições de conforto, bom ambiente e facilidade às pessoas nesse uso, portanto o mobiliário urbano tem de ser confortável” e, completa Branco, para “estadia breve, tipicamente urbana, ou para mais fruição”. Com madeira, ou não fosse o concurso de Paredes para o resto do país, no futuro. 

A experiência de ser by Paredes é comissariada por Francisco Providência e Vasco Branco e alia um concurso para pensar o luxo para o mercado e residências de jovens designers, acompanhados por profissionais experimentados, no desenvolvimento de peças de mobiliário de luxo. Segmento escolhido como tema pela autarquia pela “promessa” que encerra de valorizar uma indústria local e simultaneamente de artesania, explica Vasco Branco, e que surge a par de outra aposta: a da internacionalização, que levará o Art on Chairs não só às capitais chinesa e portuguesa, mas também às feiras do sector em Paris, Singapura e Milão no primeiro semestre de 2015. Por Paredes andará ainda a tradicional Cadeira Parade, em que alunos intervêm sobre cadeiras fornecidas pelas empresas da região.

Cadeiras, portanto, como aquelas feitas para Duets e que na primeira edição foram leiloadas pela Christie’s, resultando em 111.500 euros para projectos do ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Segundo Susana Marques, já estão feitas as entrevistas de Parra a Durão e de Grilo a Lula e as prototipagens pela JMS e CM Cadeiras, respectivamente, estão em curso num processo comissariado por José Bártolo. As cadeiras de Paredes, parte dois, estreiam-se em Setembro e mostram-se até Maio de 2015.

Notícia corrigida: grafia do nome do arquitecto Frank Gehry

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