Saúde: os joelhos de Ronaldo e os têxteis portugueses

Quanto vale o joelho de um jogador? Jogar vem de jóia, “objeto de matéria preciosa”, mas pode ter outra etimologia como focare, que originou a palavra jogar. Mais uma vez aprendi com Pedro Braga Falcão que o jogo tem algo a ver com precioso. No caso de jogadores do calibre do Ronaldo, compreende-se bem o valor do seu joelho. Portugal está a dar cartas nesta área, com um “produto” que faz a diferença.

Desde que Michael Porter fez o celebre relatório sobre os clusters em Portugal, por iniciativa de uma das mais brilhantes personalidades portuguesas, o engenheiro Mira Amaral, as oportunidades para áreas como os têxteis foram inventariadas. Não os velhos têxteis, mas os têxteis inovadores.

Por felicidade nasceu a Universidade do Minho nesse cluster. Vários institutos surgiram, entre os quais destaco o Centi - Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes. A conjugação de saberes na área têxtil com a medicina está a fazer surgir novos produtos, dispositivos médicos e outros, de nível mundial. Meias e mangas elásticas funcionais para doentes venosos, camisolas antimosquitos, antialérgicas, são apenas alguns exemplos.

No caso das mangas elásticas funcionalizadas com nanotecnologia incorporada que liberta produto medicamentoso para a pele, da qual temos que assumir a paternidade e que gerou uma patente para a empresa Barcelcom, está-se agora a avançar para novas aplicações, entre elas o joelho elástico funcionalizado capaz de libertar anti-inflamatórios. Esta joelheira pode ainda ter sensores que nos permitem verificar em tempo real o aumento do edema ou inchaço do joelho, os batimentos cardíacos, a temperatura da pele, etc. Uma gama de informação que seria importantíssima para os médicos, nomeadamente para os médicos da seleção portuguesa de futebol e respetiva equipa, da qual destaco o fisioterapeuta.

No Centi, o investigador João Gomes está prestes a ultimar os estudos nesta inovação, no âmbito da sua tese de doutoramento, e a testar o novo produto que depois será comercializado.

Há ilações a retirar destes projetos, nomeadamente a inovação levada às empresas pela observação das necessidades dos doentes, o envolvimento das nossas universidades e centros de desenvolvimento tecnológico e o feedback do mercado por parte das empresas que estão a alavancar novos produtos de valor acrescentado para o mercado mundial. Estão de parabéns as nossas universidades, nomeadamente a Universidade do Minho e a Universidade de Aveiro, o têxtil português inovador e, claro, a medicina portuguesa.

“O crescimento, a mudança e o desenvolvimento é que são normais”, como afirmou Peter Druncker.

Cirurgião cardiovascular

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