Moody’s pondera descer rating do BES

Portugal Telecom comprou 900 milhões de euros da holding não financeira do BES, a Rio Forte.

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Salgado volta ao Parlamento esta quinta-feira ENRIC VIVES-RUBIO

A Moody’s colocou em revisão, para uma possível descida, a dívida de longo prazo e o rating do BES e da Espírito Santo Financial Group (ESFG) – a holding que detém 25% do banco – na sequência dos problemas financeiros e da instabilidade que estão a afectar a instituição financeira.

A agência de notação financeira explica que a decisão foi desencadeada pelos problemas de governação do BES e pelos resultados financeiros reportados pela instituição. O banco ainda liderado por Ricardo Salgado tem actualmente um rating de Ba3, um patamar especulativo e um nível inferior à classificação do rating soberano português. Uma nota que, a avaliar pela leitura feita nesta quinta-feira pelo ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Guedes, não deixa o executivo em sobressalto quanto ao reflexo desta avaliação no rating da República.

“A agência baseia a sua decisão no anúncio inesperado a 20 de Junho de 2014 da marcação de um assembleia geral extraordinária a 31 de Julho para redefinir a estratégia do banco, que será acompanhada por mudança na estrutura de topo do banco”, afirma a Moody’s em comunicado, referindo-se à renúncia de Salgado e à indicação de Amílcar Morais Pires para presidente executivo do banco.

Além disso, a publicação dos resultados financeiros da ESFG revelou “uma provisão extraordinária de 700 milhões de euros para compensar perdas potenciais da ESI, o maior accionista da ESFG que enfrenta dificuldades financeiras significativas”, recorda a agência. Para decidir a descida da classificação, a Moody’s irá avaliar a composição da nova gestão do banco, depois de aprovada na assembleia geral extraordinária e as eventuais mudanças de estratégia.

Expresso deu, entretanto, conta de que a PT comprou e detém neste momento 900 milhões de euros de papel comercial da Rio Forte (uma holding do GES) através de títulos de dívida de curto prazo. Apesar da expressão pública dos problemas financeiros que o BES atravessa, o grupo de telecomunicações justificou ao semanário este movimento como tratando-se de uma aplicação financeira normal.

Governo: o grupo do BES é "privado"
Depois de conhecida a nota da Moody’s, o ministro da Presidência mostrou-se convicto de que não haverá uma contaminação da situação nacional pela instabilidade no BES, do ponto de vista da leitura e da avaliação feita pelas agências de rating.

Questionado nesta quinta-feira, em conferência de imprensa no final do Conselho de Ministros, sobre se o Governo está preocupado com os problemas financeiros no BES e a guerra entre Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi, o ministro remeteu a questão para o papel de supervisor do Banco de Portugal: “A questão relativa ao Grupo Espírito Santo está a ser tratada onde deve ser tratada”. E acrescentou: “É assim que tem de ser e é assim que se tem passado”.

Quanto a uma possível descida do rating do banco e o impacto dessa eventual decisão na notação financeira da República, Marques Guedes reforçou que o GES, por ser um grupo privado, “é tratado como tal”. E de parte colocou uma extrapolação da situação do banco “para o país e para a imagem externa do país”.

A Moody’s, aliás, subiu o rating de Portugal em Maio e admitiu uma nova melhoria, justificando a decisão com a trajectória de correcção das contas públicas e o “forte compromisso do Governo na consolidação” orçamental. O rating da República aumentou um nível, passando de Ba3 para Ba2, um patamar que é ainda considerado investimento especulativo (“lixo” financeiro).

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