CDS teme que Portas saia e não renove coligação com Passos

Entre os centristas fala-se cada vez mais abertamente na sucessão do líder.

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Pedro Passos Coelho com Paulo Portas no Parlamento (foto de arquivo): um cenário de crise latente DANIEL ROCHA

O líder do CDS, Paulo Portas, pode não renovar a coligação com o PSD para as legislativas e deixar o partido antes das próximas eleições previstas para Outubro de 2015. Esta é a convicção que existe entre muitos altos dirigentes centristas, que já falam na sucessão de Portas no partido.

O vice-primeiro-ministro não tem falado abertamente na hipótese de abandonar o partido antes das próximas legislativas nem revelou aos seus próximos qualquer decisão nesse sentido. Na última comissão política do CDS, no final de Maio, marcada a propósito dos resultados das europeias, muitos centristas defenderam a coligação pré-eleitoral com o PSD. Portas foi evasivo e nada disse. Remeteu essa discussão para um momento próprio.

O PÚBLICO tentou obter uma resposta de Portas sobre estes cenários, mas sem sucesso. E fonte próxima da direcção do CDS disse apenas que "o mandato dado ao líder no congresso foi claro" e que, "no momento certo, o partido decidirá a estratégia para as eleições de 2015". 

Entre os dirigentes centristas cresce, no entanto, a convicção de que será muito difícil Portas repetir a coligação pré-eleitoral, concretizada nas europeias, com Passos Coelho nas próximas legislativas. Desde a crise do Verão passado que a coligação tem estado mais pacificada, mas ninguém nega que os dois líderes têm um problema de comunicação que não foi superado até agora. Politicamente, Portas pode considerar que a aliança pré-eleitoral é o que faz sentido, mas pessoalmente há dúvidas de que o líder do CDS tome essa decisão.

Essa ponderação entre a vontade pessoal e política ficou clara quando Portas foi questionado, no início do mês passado, pela Rádio Renascença, sobre se, com o fim do programa a 17 de Maio, considerava já ter pago “o preço da reputação”, depois de ter voltado atrás na sua demissão "irrevogável". Portas respondeu: “Só andamos com a cabeça levantada nesta vida, se a nossa consciência nos disser que, no balanço do que temos de conseguir e do que temos de transigir, estamos a fazer o que é devido, estamos a fazer o que é certo".

No PSD, o sentimento é de expectativa. Passos Coelho considerou “natural” uma coligação e no congresso do partido, em Fevereiro passado, admitiu a avaliação dessa possibilidade.

No cenário de não renovar a coligação pré-eleitoral, Portas deixaria o partido num momento em que essa saída não tivesse efeitos no Governo. Ou seja, o líder do CDS não quererá pôr em causa a coligação e, aliás, já assumiu que esta será a primeira de dois partidos a chegar ao fim em 40 anos de democracia.

Mas há quem se questione sobre a sua real vontade em retirar-se da vida política activa e sobre qual será o futuro político. Uma das hipóteses é avançar para as Presidenciais, mas não as de 2016. Isso mesmo foi admitido em Janeiro deste ano por António Pires de Lima, ministro da Economia e figura muito próxima de Paulo Portas. Até lá, os centristas vêem Portas num cargo político internacional.

Com saída antes das legislativas ou depois, o certo é que muitos acreditam que este ciclo político de Paulo Portas está a chegar ao fim. Até, porque, actualmente, é o líder partidário há mais tempo no activo. E cada vez mais se fala abertamente na sucessão.

Em cima da mesa estão três nomes fortes: Luís Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, encarado como uma das pessoas ideologicamente mais próximas de Portas; Assunção Cristas, ministra da Agricultura, considerada uma “protegida” do líder; e o eurodeputado Nuno Melo, visto como o dirigente mais popular no partido depois do presidente. Outro nome incontornável é o de António Pires de Lima, ministro da Economia, mas o próprio já disse que só estará na política até Outubro de 2015.

Mas estes cenários não são unânimes. Entre os mais próximos de Portas há também quem acredite que a coligação vai até ao fim e que será renovada. E que só depois das legislativas – e em caso de derrota – o cenário de abandono se coloca.

Em 2005, Paulo Portas e o então líder do PSD Pedro Santana Lopes, que sucedera a Durão Barroso no governo de coligação, não foram juntos às eleições legislativas. Foi o PS de José Sócrates que ganhou com maioria absoluta.

Perante o resultado de 7,2% do CDS-PP, Portas demite-se e sai da cena política durante dois anos. Regressou em 2007, derrotando José Ribeiro e Castro na liderança do CDS.

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