Noventa minutos extra de Django Libertado à espera de uma mini-série

Quentin Tarantino quer que o material não utilizado na versão comercial do filme possa ser visto — não num director’s cut mas numa mini-série a exibir pela televisão

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TIZIANA FABI/ AFP

Que Quentin Tarantino tem em casa, para além de uma vasta colecção de filmes em 35 e 16 mm (que incluem os seus próprios filmes, pois ele não se aborrece, antes pelo contrário, de os saborear de novo do princípio até “the very fucking end”), material não utilizado na versão estreada comercialmente de Django Libertado suficiente para mais um filme, é coisa que se sabe desde 2012. Nessa altura, falou-se muito de uma sugestão do produtor Harvey Weinstein feita a Quentin durante o processo de montagem: partir Django em dois — mais ou menos por alturas do filme em que surgia a personagem de Leonardo DiCaprio — e aplicar-lhe o método Kill Bill, dividindo o filme em dois episódios. Mas Quentin conseguiu reduzir a versão que tinha de mais de três horas para um filme de duas horas e 45 minutos — e basicamente não acreditava que aquilo que funcionou para Kill Bill, ou seja, dois filmes autónomos, resultasse com uma narrativa mais linear como a de Django Libertado.

Mas, dois anos depois, volta-se a falar no material nunca visto dessa homenagem ao western spaghetti — que foi também um confronto de Tarantino com as imagens com que a América construiu o seu próprio mito, com as imagens dos founding fathers do cinema americano (foi o filme do ano para os críticos do Ípsilon). Na sua passagem pelo Festival de Cannes, onde apresentou Pulp Fiction, 20 anos depois de lhe ter sido atribuída a Palma de Ouro (o único filme de todo o festival, aliás, que foi exibido este ano em 35 mm), o realizador, que pugnou pelo aparecimento de uma nova geração de espectadores e cineastas que perceba o que está a deixar perder com o desaparecimento da película e com o deslumbramento pelo digital, confirmou que lá em casa há 90 minutos de material de Django Libertado nunca antes usados. E que ele quer que sejam vistos. Não como uma versão director’s cut, porque, como disse, não é um fetichista dessa figura — a “versão do realizador”, considera, foi aquela que se estreou comercialmente nos ecrãs. Não, o que ele quer fazer então — mas há que contar com o tempo que decide dar aos seus próprios entusiasmos — é uma mini-série de quatro horas para ser exibida na televisão, como capítulos a que os espectadores regressam semanalmente. Os canais por cabo estão avisados. 

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