Aki Kaurismaki, os irmãos Dardenne, Terrence Malick ou nenhum deles?

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"The Tree of Life" dividiu§ mas Malick foi o "acontecimento" do festival DR

Os grandes vencedores de Cannes são conhecidos este domingo, último dia do festival de cinema

Le Havre, do finlandês Aki Kaurismaki, e Le Gamin au Vélo, o filme mais mainstream, instalado já no melodrama, dos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, partilham a condição de serem os mais votados pelos críticos e jornalistas nos "quadros de estrelas" publicados durante o festival (mas é o júri, presidido por Robert DeNiro, que decide os prémios que hoje vão ser anunciados...). E uma terceira vez para os Dardenne não será excessiva?

The Tree of Life dividiu, mas Malick foi o "acontecimento" do festival, e isso sê-lo-ia sempre independentemente do filme. O que fazer, agora, perante a dimensão intimidante deste cineasta que esteve em Cannes pela última vez há 30 anos?

Sugerem-se ainda hipóteses para We need to talk about Kevin, de Lynne Ramsey (prémio de interpretação para Tilda Swinton como mãe de um adolescente que massacra os colegas), Habemus Papam, de Nanni Moretti (Michel Piccoli como Papa inundado pela dúvida) ou para a comédia muda The Artist, de Michel Hazanavicius (a panache de Jean Dujardim, a sua recriação de uma vedeta do mudo à la Douglas Fairbanks com a melancolia de John Gilbert, é um dos ganchos do divertimento).

Poderá Once upon a time in Anatolia, de Nuri Bilge Ceylan, cumprir a tradição cannoise de transportar os últimos filmes em concurso para o Palmarés? O turco Nuri é um dos cineastas "feitos" em Cannes, onde já recebeu um Grande Prémio do Júri (Uzak, em 2002) e um Prémio de Realização (Os Três Macacos, em 2008). Foi aqui que se começou a exibir como artista, e de exibição se tratava em Os três macacos.

Once upon a time in Anatolia, mais de três horas de deriva de uma equipa de médicos, inspectores da polícia e dois suspeitos de assassinato em direcção à descoberta da prova do delito, um cadáver, restitui a densidade que estava no início do cinema de Ceylan. Mas continua com sinais de alguma arrogância - na primeira hora nada parece interessar ao realizador a não ser as luzes dos carros, durante a noite, a serpentearem pela Anatólia; isso e uma peça de fruta a sofrer os caprichos da água num riacho. É como se Ceylan se fizesse herdeiro de uma tradição do chamado "cinema de autor" (com Antonioni à cabeça) e dele fizesse uma recriação, como quem recria um "género"... Mas a partir do momento em que a morte intervém, e as personagens são tocadas, Once upon a time in Anatolia suspende a sensação de falsidade que paira hoje sobre o seu trabalho.

Protegida de Cannes, a japonesa Naomi Kawase, já vencedora de uma Câmara de Ouro, continua sem grandes argumentos cinematográficos para a sua comunhão com a natureza e para os seus espíritos. Em Hanezu, em que uma catástrofe surge no horizonte (e toda a gente pensou no Japão dos últimos meses), o cinema, como as figuras, continua a ser personagem secundária.

E não há nada galvanizante em Footnote, do israelita Joseph Cedar, comédia burlesca, atacada de histeria gráfica, em que se defrontam pai e filho, especialistas no Talmude (Cedar um pretendente a terceiro irmão Coen?). Finalmente, La Source des Femmes, de Radu Mihaileanu, em que as mulheres de uma aldeia do Norte de África fazem "greve ao amor" para se libertarem do espartilho que lhes impõem os (seus) homens, é a prova de que boas intenções e a mistura de drama, humor e pitoresco são boas bases para grosseria cinematográfica.

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