Pintura efémera de Richard Wright vence o Turner 2009

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Richard Wright Toby Melville/REUTERS

É o regresso da pintura às vitórias no Turner, mas é um regresso que não passa de Janeiro. É que Richard Wirght é um pintor do efémero, dos frescos que aparecem e desaparecem, feitos à medida dos espaços que os acolhem. A sua obra dourada, sem título, para a exposição do Prémio Turner na Tate Britain, é um exemplo disso: o seu método baseia-se nas técnicas dos pintores de frescos do Renascimento, transferindo um desenho em papel para a parede através de furos no papel, o que produziu "o fantasma de uma obra", como explicou o autor ao Guardian.

Daí nasceu a imagem dourada, pintada por cima e coberta com folha de ouro, cuja "profunda originalidade e beleza" convenceu o júri - presidido por Stephen Deuchar, director da Tate Britain, e com Charles Esche, director do Van Abbemuseum, em Eindhoven, a apresentadora Mariella Frostrup, o director da Trienal Folkestone, Andrea Schlieker e o crítico de arte do Guardian Jonathan Jones, como membros. 

E daí vieram os 27,6 mil euros do prémio maior da arte contemporânea britânica, dado ao mais velho premiado de sempre (49 anos) pelo júri das galerias Tate. O fresco dourado, algo entre o barroco e o abstracto, como descreve a imprensa, e "a composição mais complexa e mais ambiciosa até à data" do artista, como descreveu o júri, vai desaparecer. Dia 3 acaba a exposição do Turner e nesse dia a pintura será ocultada por nova camada de tinta.

Sobre o que é produzir uma peça que não durará para sempre, nem sequer um ano, Wright tem a explicação na ponta da língua: "Estou interessado em colocar a pintura numa situação em que colida com o mundo. A fragilidade dessa existência, [o facto de] estar aqui por um tão curto período de tempo, penso que intensifica a experiência de estar aqui. É também um desafio à comercialidade da obra", explicou à BBC.

Não se pode ficar rico, assume, a vender peças que não existem para todo o sempre - ou que, pelo menos, que carregam em si esse potencial - "mas consegui chegar até aqui", sorri na mesma entrevista, fazendo-nos pensar na sede (agora, com a crise, um pouco menor) pelos trabalhos dos membros da Young British Art que têm vencido o Turner. Com ou sem ênfase no momento de exposição/existência da peça, Richard Wright confessa ao Guardian que sim, às vezes há "perda", mas que outras vezes há "alívio".

Para o júri, o seu trabalho "alicerçado na tradição das belas artes mas no entanto radicalmente conceptual no seu impacto" produz obras "que ganham vida quando são experienciadas pelos espectadores". Para os espectadores, que foram deixando comentários na Tate, a mensagem do artista parece ter passado na perfeição: "Obrigada por trazer algumas competências de volta ao Prémio Turner"; "Atitude refrescante em relação à comercialidade e à mortalidade". Mas não se pense que este desafio ao mercado e à ideia de permanência da arte contemporânea está isento de valores seguros: há cerca de dez murais de Wright no mundo, sobrevivendo em paredes de galerias, e ele é representado pelo galerista e comerciante de arte mais poderoso do mundo, Larry Gagosian.

Richard Wright, que nasceu em Londres mas em criança foi para a Escócia, onde estudou e agora vive em Glasgow, nem sempre pintou assim: começou pela tela, pelas peças figurativas, mas depois passou às paredes e ao abstracto. E destruiu todos os seus quadros em tela, que achava "uma porcaria". Foi nomeado para o Turner no último ano em que podia ganhá-lo (o prémio é para artistas com menos de 50 anos) por duas mostras, uma na 55th Carnegie International (Pittsburgh) e outra na Galeria Ingleby (Edimburgo).

Os restantes nomeados deste ano eram Roger Hiorns, Enrico David e Lucy Skaer. No ano passado, o Turner foi para Mark Leckey, que produziu um filme com Homer Simpson e Felix the Cat. Entre os vencedores do Turner, fundado em 1984, figuram Damien Hirst, Martin Creed, Grayson Perry ou Gilbert and George.

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