Uma reunião de velhos amigos no regresso dos Taxi

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Fernando Veludo

Portuenses marcaram regresso aos discos com estreia no Coliseu do Porto. Êxitos da década de 80 e novas canções foram pretexto para reencontro com amigos

Foi com os Taxi que Jorge Silva aprendeu como funcionava a indústria musical. Foi manager da banda portuense na década de 1980 e, com eles, lançou-se num "processo de aprendizagem", comum a todos os envolvidos, da banda aos técnicos de som. Estava tudo a ser inventado no rock português e "não havia um circuito de concertos", lembrou ao P2, sexta-feira à noite, enquanto esperava pelo início do concerto dos Taxi no Coliseu do Porto.
Actualmente responsável pela promotora de espectáculos Portoeventos, Jorge Silva, com 50 anos, admite a quota-parte de responsabilidade no regresso da banda - convenceu-os em 2006 a voltar aos concertos. E ei-los, em 2009, de volta em definitivo aos concertos (o de sexta-feira foi o primeiro no Coliseu do Porto - nos anos 80, seria algo "impensável" porque espectáculos rock eram coisa de pavilhões) e aos discos (Amanhã, o quinto álbum de originais, já está nas lojas).


Durante a conversa, à volta de Jorge Silva, foram-se juntando-se técnicos de som dos primeiros anos dos Taxi, amigas de longa data e actuais namoradas. "É voltar à alegria, à adrenalina de um concerto", confessou Manuel Rodrigues, 52 anos, que se ocupava do som de palco dos Taxi nos primeiros anos de carreira. "Hoje em dia tenho dificuldade em vibrar com um concerto, mas hoje estou a vibrar." Antes do concerto, Isabel Andrade, namorada do baixista, Rui Taborda, também não conseguia disfarçar a excitação: "Ele está numa pilha de nervos."
"Estás ver o que é profissionalismo? Também existia, mas era um bocadinho low profile", contou José Oliveira, outro dos técnicos que acompanharam os Taxi. O antigo companheiro de rota estava confiante. "Estão a tocar muito melhor do que antigamente. Tocavam muito rápido - um concerto de 45 minutos ficava com 30", disse, a rir-se. Perdoa-se: eram os tempos da new wave e dos ecos do punk.
"É engraçado ver pessoas com 13 anos saberem as letras", afirmou ao PÚBLICO  Fernando Teixeira, 40 anos, que conheceu os Taxi por intermédio do vizinho, Lucas Monteiro, um amigo da banda. Hoje também ele é amigo - mostra uma fotografia no telemóvel que o comprova.


O táxi e os abraços
Enquanto os Monstro Mau aqueciam o Coliseu (que nos Taxi já estaria cheio), nos bastidores era grande o corrupio, com indicações e abraços de última hora. E uma surpresa: um táxi Mercedes 240 D esperava a sua entrada em palco. Tem 1 milhão e 400 mil quilómetros, é um dos quatro táxis mais antigos a circular no Porto e já apareceu na televisão e no cinema, garante o dono, António Carvalho, orgulhoso. O taxista lamenta apenas o tampão amolgado, resultado da complicada transferência do carro para o palco.
Por volta das 23h00, dão-se os últimos abraços nos bastidores e os Taxi entram em palco para um desfile de canções que pertencem ao senso comum pop português, como "Chiclete", "Cairo" e "TV-WC", e temas do novo disco (o single "Não Sei Se Sei" foi já cantado por muita gente). Jogando em casa e perante muitos amigos (Henrique Oliveira, o guitarrista, não parava de acenar para a plateia), saíram do palco como vencedores.
No final, entre abraços e autógrafos, Rui Taborda mostrava-se satisfeito com a actuação, mais exigente do que as "brincadeiras" que a banda foi fazendo em alguns palcos nos últimos anos. Desta vez há um disco novo, um projecto com dois anos, explicou ao P2: "Fomos compondo com um gravador pequenino. Sentimos que ainda tínhamos capacidade e, sobretudo, vontade." A noite de regresso deu-lhe motivos de sobra para sorrir: "O importante é continuarmos com os amigos."

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