O tempo estraga as pinturas, a ciência quer resgatá-las

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Rue de Paris, Temps de Pluie, de Caillebotte: realista ou impressionista?

O restauro de seis meses que o Art Institute of Chicago fez à pintura Rue de Paris, Temps de Pluie, de Caillebotte, está a revelar maior contraste entre as cores e maior tridimensionalidade. Graças a testes com luz ultravioleta, foi possível perceber que foi acrescentada uma camada de tinta ao céu num restauro anterior e que, com o passar do tempo, esta camada foi ficando amarelada. Quando a restauradora Faye Wrubel limpou o quadro de 1877, abriu-se um céu mais azul e luminoso.

Isto não seria tão importante se a História da Arte não tivesse catalogado Caillebotte como realista. Este céu dá uma nova aura ao quadro. “Ajuda-nos a perceber uma coisa que nunca tínhamos ponderado: ele era um impressionista no verdadeiro sentido da palavra, pelo seu interesse na temporalidade”, diz Gloria Groom, curadora da pintura europeia do século XIX daquele museu, ao The Wall Street Journal. Groom concretiza explicando que Caillebotte não queria pintar um dia de chuva em Paris, mas antes o instante preciso em que o sol tenta romper entre as nuvens logo depois de a chuva parar.

O Art Institute of Chicago descobriu que também Renoir foi atraiçoado pelo tempo — no seu caso, pela degradação dos pigmentos que usou e que desvaneceram as cores de Madame Léon Clapisson, de 1883. A tinta que ficou protegida da luz pela moldura é um vermelho intenso com pinceladas roxas, mas o quadro exposto, aquele que víamos ao visitar o museu, tem pelo contrário um fundo cinzento com pinceladas verdes e azuis. A tinta degradou-se porque, como era popular entre os impressionistas, Renoir utilizou pigmentos orgânicos, feitos a partir de plantas e insectos. “Os pintores não imaginavam que os pigmentos se degradariam completamente”, nota Francesca Casadio, restaurador, ao New York Times, deixando claro que não há planos para fazer qualquer restauro que traga de volta as cores originais do quadro. A única hipótese de ver Madame Léon Clapisson como realmente era é através da reconstituição digital feita pelo museu, onde se vê uma atmosfera escarlate que torna a pintura “de alguma forma mais atrevida, mais aventureira”. 

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