Antony Gormley pergunta-lhe se quer ser uma obra de arte

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A partir de Julho, o Fourth Plynth da Trafalgal Square, em Londres, será ocupado por pessoas comuns. Cada um fica uma hora

“Quem quer ser uma obra de arte?” é a pergunta que Antony Gormley, artista plástico britânico, faz a todo o Reino Unido. E não, não é um novo “reality-show”.

O projecto de Gormley, “One & Other”, vai colocar pessoas comuns (ou incomuns) no topo do Fourth Plynth (plinto é uma plataforma que serve como base a uma estátua) na Trafalgar Square, em Londres. O desafio está aberto a todos os habitantes do Reino Unido (ou que estejam no país) com mais de 16 anos. Quem quiser candidatar-se, pode fazê-lo no site www.oneandother.com e tentar ser um dos 2400 escolhidos que vão ocupar a plataforma durante uma hora, a partir de dia 6 de Julho e durante 100 dias.

O próprio criador já se inscreveu no projecto, mas pode não ser um dos escolhidos. As inscrições serão processadas aleatoriamente por um programa de computador que também irá garantir que sejam escolhidos o mesmo números de homens e mulheres e que cada região da Grã-Bretanha seja representada proporcionalmente, descreve o jornal.

A ideia por trás de “One & Other” é “muito simples”, diz o artista. “Através da elevação no plinto e tirando-o do chão, o corpo transforma-se numa metáfora, símbolo, emblema – um ponto de referência, de foco e de pensamento. No contexto da Trafalgar com as suas estátuas militares (…) e figuras históricas masculinas de indivíduos específicos, esta elevação da vida quotidiana a uma posição normalmente ocupada por arte monumental permite-nos reflectir sobre a diversidade, a vulnerabilidade e a singularidade do indivíduo na sociedade contemporânea. Pode ser trágico mas também divertido.”  

A única adição de Gormley à estrutura do plinto será uma rede colocada nos lados do paralelepípedo. “É obviamente importante como estrutura de segurança, mas também quando falamos de vulnerabilidade e exposição da pessoa que esteja no topo”, explicou Gormley em entrevista ao “Times”.

“Os participantes podem fazer o que quiserem. Podem levar para a plataforma tudo o que conseguirem carregar. Sem dúvida, haverá alguns exibicionistas, mas outras pessoas podem desejar não dizer nada, apenas estar lá em cima e representar-se a si próprios e à sua comunidade,” escreveu Gormley num artigo no “Guardian”.

A nudez é permitida, mas quem fizer algo ilegal ou obsceno será retirado do plinto, lembrava o “Times”. “One & Other” vai ser filmado pela Sky ao longo das 2400 horas e um vídeo da plataforma também será transmitido em directo na National Portrait Gallery.

Quando o Fourth Plynth foi criado em 1841 destinava-se a ser a base para uma estátua equestre, mas devido à falta de fundos ficou desocupado. Durante mais de um século, a plataforma ficou vazia e chegou mesmo a ter a alcunha de “Empty Plynth”. Em 1998, a Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA) encomendou projectos a Mark Wallinger, Bill Woodrow e Rachel Whiteread para serem exibidos temporariamente na plataforma. Em 2005, foi exposta uma escultura de Mark Quinn que atraiu a atenção do público e da imprensa, pois Quinn utilizou como modelo a artista Alison Lapper, que nasceu sem os dois braços, quando estava grávida de oito meses. Desde Novembro de 2007 que tem estado exposta uma escultura de Thomas Schütte, “Model for a Hotel 2007”, e em Julho será substituída pelo projecto “One & Other”.

Todos os projectos exibidos na plataforma da Trafagal Square têm sido temporários e, em Agosto de 2008, começaram a surgir rumores de que a plataforma estaria a ser “reservada” para uma estátua da Rainha Isabel II, quando a rainha morresse. Sandy Nairne, antiga presidente do Fourth Plynth Commissioning Group e actual directora do National Portrait Gallery, explicou ao “Guardian”, na altura, que não acreditava nos rumores, porque não achava o local “suficientemente proeminente ou apropriado” para um tributo à rainha.

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