Günter Grass compara Israel às ditaduras

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Günter Grass com o jornal no qual foi publicado o poema da polémica AFP

Escritor foi considerado "persona non grata" em Israel

O escritor alemão Günter Grass comparou a proibição de entrar em Israel com as acções da Stasi, a polícia secreta da República Democrática Alemã (RDA). O autor foi considerado persona non grata, pelo governo israelita, no domingo, por ter publicado um poema no qual advertia que o Estado judaico era uma ameaça para o mundo devido ao seu poder nuclear.

 Numa nota enviada nesta quinta-feira ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung (o mesmo que publicou o poema na semana passada), Günter Grass escreve que a medida decretada por Israel é a prova de que o país ainda tem muito para evoluir, qualificando a proibição de um “acto de execução”. 

O Nobel da Literatura recorda ainda que esta não foi a primeira vez que lhe foi vetada a entrada num país pelas suas opiniões, lembrando os casos da RDA e da Birmânia. “Em ambos os casos seguiu-se a prática habitual das ditaduras”, escreve Günter Grass, comparando assim o Estado judaico a um regime ditatorial. 

“Agora é o ministro do Interior de uma democracia, o Estado de Israel, que me puniu negando-me a entrada, e a sua justificação para a medida de coacção imposta recorda, pelo seu tom, o veredicto do ministro [Erich] Mielke [chefe de segurança da Stasi]”, lê-se na nota, que tem como título “As minhas respostas às recentes decisões”.

No domingo, o ministro do Interior, Eli Yishai, declarou Günter Grass persona non grata, vetando-lhe o acesso ao país, justificando que os seus poemas “alimentam as chamas do ódio contra Israel e o povo de Israel, e são uma tentativa de fomentar a ideia que este assumiu publicamente quando vestiu a farda das SS (polícia nazi)”. 

“Se Grass quer continuar a divulgar a sua criação disforme e enganosa, sugiro-lhe que o faça no Irão, aí encontrará ouvintes”, disse o ministro, numa alusão a uma comparação feita pelo escritor Israel e o Irão, então acusado por declarações anti-semitas.

Mas Günter Grass não se revê nas críticas e na sua resposta vai mais longe, afirmando que não espera qualquer tipo de mudança no regime israelita, uma vez que o “governo de Israel considera-se autolegítimo, e, até agora, indisponível para qualquer admoestação”.

“Só a Birmânia me dá uma pequena esperança”, continua o alemão, explicando que o país tem dado provas de uma evolução positiva.

Tirem-lhe o Nobel
Apesar da proibição, Günter Grass garante que vai continuar ligado a Israel, pois se há coisa que não lhe podem tirar são as recordações das várias viagens que fez àquele país. 

Desde a publicação do poema, há uma semana, que o escritor de 84 anos tem sido duramente criticado. À Academia Sueca, que atribui o Nobel da Literatura, chegou um pedido para retirar o prémio a Günter Grass, e o presidente da associação israelita dos escritores de língua hebraica pediu a todos os seus colegas em todo o mundo para condenarem a "postura imoral” do alemão.

No entanto, a Academia, através do secretário Peter Englund, fez saber que não existem motivos para que o prémio lhe seja retirado. “Não há e não haverá discussão na Academia Sueca para retirar o prémio. No que se refere ao debate provocado pelo poema de Gunter Grass ‘Was gesagt werden muss’ (O que tem de ser dito), quero sublinhar que Grass recebeu o prémio Nobel em 1999 pelo seu mérito literário e apenas pelo mérito literário, como é o caso de todos os laureados”, escreveu em comunicado Englund.

Günther Grass, defensor de causas de esquerda e que se manifestou por exemplo contra intervenções militares no Iraque, foi durante décadas considerado uma espécie de "consciência moral" da Alemanha.

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