Footlight: a novela inédita de Chaplin que inspirou Luzes da Ribalta

Foto

Footlight, a novela por trás de Luzes da Ribalta, é ainda mais negra do que o filme que Chaplin realizou em 1952.

A Cinemateca de Bolonha lançou na terça-feira, em Londres, uma novela inédita de Charles Chaplin, Footlight, a única obra de ficção escrita pelo actor e realizador, que este usou como base do argumento de Luzes da Ribalta (1952), o último filme que realizou na América.

Tal como o filme, Footlight conta a história de um palhaço envelhecido e alcoólico, Calvero, e da bailarina que este salva do suicídio. Mas a novela, que a Cinemateca de Bolonha publicou em inglês, é ainda mais negra e nostálgica do que a sua versão cinematográfica, interpretada por Chaplin e pela actriz Claire Bloom.

Escrita em 1948, Footlight foi reconstruída a partir de diferentes manuscritos e dactiloscritos por David Robinson, biógrafo de Chaplin. Robinson lembra que o realizador era, na época, “um grande alvo de J. Edgar Hoover”. O FBI perseguia-o desde meados dos anos 40, acusando-o de simpatias comunistas, e aproveitou o processo de paternidade que lhe moveu uma jovem actriz, Joan Barry, para lançar uma campanha negra. Barry afirmava que Chaplin era o pai da sua filha, e o tribunal veio a dar-lhe razão apesar de testes sanguíneos indicarem o contrário. A quebra de popularidade que a sua obra sofreu nos Estados Unidos na sequência desta longa perseguição está reflectida no negrume desta novela, cujo protagonista se queixa amargamente da deserção do seu público.

A história de Luzes da Ribalta, como a do livro, passa-se em Londres, e Chaplin quis assistir à estreia do filme no seu país natal. No dia seguinte a ter embarcado, em Nova Iorque, soube que a sua permissão de reentrar nos Estados Unidos fora revogada. Fixou-se então na Suíça, onde veio a morrer em 1977. Os seus herdeiros confiaram à Cinemateca de Bolonha, em 1998, a tarefa de digitalizar os filmes e outros materiais do espólio do realizador.

O lançamento de Footlight decorreu no British Film Institute, em Londres, com a presença de David Robinson e de Claire Bloom, a quem o livro é dedicado.

Sugerir correcção
Comentar