Vamos ocupar o Nimas para ver o que não pode ser visto

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"As Horas de Maria", de António Macedo

O projecto Chão, que se instala temporariamente espaços urbanos devolutos, ocupa desde hoje e até 26 de Março a sala, com um programa pensado a partir desta ideia: "A impossibilidade de mostrar e ver cinema, implícita no fecho de mais uma sala".

Um cinema onde já não é possível ver filmes - e estamos a falar do Nimas, na avenida 5 de Outubro, em Lisboa - é o local certo para pensar naquilo que não vemos. O que não vemos porque não nos deixam ver, porque não se consegue mostrar, porque vemos demasiadas coisas, ou porque não há muitos sítios em que as possamos ver em conjunto e nós nem nos apercebemos disso.

O projecto Chão, que se instala temporariamente espaços urbanos devolutos, ocupa desde hoje e até 26 de Março o Nimas com um programa pensado a partir desta ideia: "A impossibilidade de mostrar e ver cinema, implícita no fecho de mais uma sala" (o Nimas não fechou mas desde Agosto do ano passado que se dedica sobretudo a espectactáculos de música, dança e teatro).

Sexta-feira às 21h30 passa "As Horas de Maria", o filme que António Macedo fez em 1976 e que estreou precisamente no Nimas, em 1979, no meio de violentas manifestações de protesto de grupos católicos, que se repetiram depois noutros pontos do país. No final haverá um debate com António Macedo e Manuel Mozos (autor de "Cinema, alguns cortes: Censura" (1999), que passa hoje, juntamente com "Catembe" (1965) de Manuel Faria de Almeida, o filme da história do cinema mais cortado pela censura, e que apesar de totalmente retalhado foi proibido).

Sábado a "ocupação" do Nimas vai-nos permitir ver "Kino Xtrem", uma projecção tripla (três projectores) com edição e som ao vivo, de Peter Sempel que, no meio da sala, fará essa edição em directo (a última vez que o fez foi em 2007 nos seus 25 anos de carreira).

No próximo fim-de-semana o Chão continuará no Nimas. No dia 25 (sempre às 21h30) passa "Uma História do Vento", de Joris Ivens, de 1988 (e a questão aqui é: como é possível filmar o vento?), e ainda "O Vento", de Victor Sjöström (1928), acompanhado por uma sessão de sonoplastia ao vivo por Vasco Pimentel, Peter Bastien e Rui Viana Pereira. A ocupação termina a 26 com "Forbidden Images" (2010), da dupla de artistas Graw Böckler, e "You too bar, YouTube mixtape", de João Onofre e Miguel Sá.

O Chão é um projecto que reúne dez pessoas de diferentes áreas e que num ano já ocupou temporariamente três espaços em Lisboa e um em Évora, adaptando sempre a programação à história de cada espaço. "A lógica é a de que as ocupações sejam efémeras", explica ao Ípsilon Marta Galvão Lucas. "Queremos ir buscar as memórias do lugar, e a ideia é que a ocupação seja apenas mais uma camada, que talvez só deixe vestígios na memória das pessoas".

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