No Bairro Alto a ver o Brasil ganhar: “Felipão a presidente!”

O Botequim Brasileiro viveu a primeira noite de enchente durante o Mundial.

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Um pouco por todo o mundo, os brasileiros juntaram-se ao redor da televisão, para ver a estreia no Mundial Alessandro Garofalo/Reuters

Noite de Santo António, 12 de Junho às 20 horas, em pleno coração de Lisboa, no Bairro Alto, a grande festa popular da cidade já arrancou, com milhares de pessoas nas ruas distribuídas por centenas de barraquinhas a comerem as típicas sardinhas e as bifanas no pão, sem nunca dispensarem a bela cerveja. Mas, na Rua da Emenda, há um pequeno bar de esquina, com uma bandeira brasileira à porta que parece alheio a tudo isto. O Brasil prepara-se para jogar contra a Croácia, na primeira partida do Mundial.

“Eu gosto é de churrasco, não de sardinha!”, exclamou, transbordando felicidade, Sebastião Augusto, construtor civil brasileiro, de 54 anos, a viver em Portugal há 13, depois de puxar de um cigarro e de se encostar à porta do bar, o Botequim Brasileiro. “Sr. António, vou me embora que hoje joga o Brasil!”, foi o que Sebastião disse ao seu patrão para poder aqui estar a esta hora com a camisola da canarinha vestida com o número 10 de Ronaldinho Gaúcho nas costas.

Enquanto os minutos passam e a hora do jogo se aproxima, vão-se sentando a conta-gotas no bar, homens e mulheres brasileiros, desde estudantes e viajantes até aos mais velhos, todos com bandeiras e camisolas do país. Cumprimentam efusivamente o dono do bar, Luciano Lima, de 41 anos. Alguns, antes de pedirem uma dose de mandioca e uma cerveja para acompanhar, exclamam timidamente, “vamos ao ‘hexa’, Luciano?!” – parece que aqui toda a gente se conhece. “Isto aqui é uma grande família, aqui tem de tudo, trabalhadores do consulado brasileiro, o Sebastião e a sua mulher, viajantes, outros amigos brasileiros, é quase um mini-retrato do meu país ”, explica Luciano.

Nem todos os presentes parecem assim tão entusiasmados com o arranque do Mundial. “Eu quero que o Brasil ganhe a Copa, mas se perder não fico assim tão triste”, diz Luciano, explicando: “Se o Brasil ganhar, o meu povo vai entrar em euforia e vai esquecer que não há escolas, que não há hospitais e que não há saneamento básico. Ainda por cima, as eleições estão a chegar [5 de Outubro de 2014] e a Dilma vai ser desresponsabilizada de tudo”.

Claudia Bravo, brasileira de 52 anos, há 20 a viver em Portugal, trabalha no consulado do Brasil, ali mesmo ao lado do Botequim Brasileiro. Está equipada com as cores azuis, amarelas e verdes, pronta com as suas amigas para apoiar o seu país. Mas partilha a opinião de Luciano.“ Se o Brasil ganhar, acho que as manifestações vão parar durante um tempo, mas se perde vai ser o caos!”.

O relógio bate as 21 horas e todos, na pequena sala completamente sobrelotada, cantam o hino brasileiro de forma quase tímida. O jogo arranca mal, com o autogolo do jogador brasileiro Marcelo e na sala exclama-se, “porquê Marcelo?!”. Márcia, a mulher de Sebastião, está visivelmente chateada com o resultado, até porque tinha apostado com o seu marido que o Brasil ia ganhar 3-0. “Eu apostei no 3-1, vou ganhar a aposta, vocês vão ver”, disse Sebastião, em voz alta e animadora para todos os presentes. Sente-se o nervoso miudinho no bar, que só diminui quando o Brasil empata o jogo, antes do intervalo.

Até que ao minuto 70, Neymar vira o jogo para 2-1 para grande alívio dos brasileiros no bar. “ Felipão a presidente!”, exclamou Juliano, estudante de economia que está a viajar pela Europa. Com o 3-1, Sebastião está eufórico. “Tão vendo, eu disse, vamos ganhar 3-1!”. Luciano está contente, mas não assim tanto.

“Temos que ganhar o Mundial para esta confusão toda passar, o futebol faz bem à política”, disse Márcia, no final do jogo.

Segunda-feira o Botequim Brasileiro vai ter outra enchente dos brasileiros, mas agora para apoiar Portugal. “Agora é tudo a apoiar o nosso outro país, nós aqui somos mais portugueses do que muitos portugueses, porque eu escolhi viver aqui e adoro isto, vocês não escolheram, força Portugal!”, disse Luciano antes de servir mais uma cerveja a um “familiar” seu.

Texto editado por Hugo Daniel Sousa

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