Subida do nível das águas desenterra soldados da II Guerra nas Ilhas Marshall

Relatório da ONU diz que ventos e marés no Pacífico estão a mudar ao ritmo mais rápido desde 1990.

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Majuro, a capital das Marshall, num dia de cheia DR

A subida do nível da água está a destruir cemitérios e a desenterrar material bélico da II Guerra Mundial nas lhas Marshall, no Pacífico. Vinte e seis cadáveres que deverão ser de soldados japoneses ficaram expostas.

“Há caixões e pessoas mortas a serem arrastados das sepulturas. O assunto é muito sério”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros das Marshall, Tony De Brum, em Bona (Alemanha), onde participa numa nova ronda de negociações das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

De Brum explicou que muitos dos 170 países representados em Bona tardam em perceber as consequências das alterações climáticas. “Penso que eles percebem [o que se passa], mas não com a rapidez necessária para proteger as comunidades mais vulneráveis”, disse o ministro das Marshall, um conjunto de ilhas na Micronésia.

A subida das águas do mar afecta os países mais ameaçados a vários níveis. O sal contamina as terras aráveis, inviabilizando as colheitas, por exemplo, e afectando a água potável. Para contornar a pouca visibilidade destes fenómenos que mexem com a capacidade de as populações se alimentarem, De Brum decidiu falar do caso dos soldados japoneses que a água do mar desenterrou.

Os 26 cadáveres apareceram na ilha de Santo depois das marés altas de Fevereiro, Março e Abril. O ministro disse à BBC que é possível que se descubram outros corpos. “Pensamos que sejam japoneses. Temos amostras de corpos exumados pela Marinha americana em Pearl Harbour [no Havai] que irão ajudar na identificação”, disse De Brum. Depois de identificados, disse o ministro, e a confirmar-se que são soldados japoneses, os corpos serão repatriados.

Um relatório das Nações Unidas divulgado na quinta-feira diz que o ritmo da mudança nos ventos e marés no Pacífico é o mais elevado desde 1990. O aquecimento global fez subir o nível das águas do planeta, agravando o impacto das tempestades e das marés. A juntar a este cenário, está o ritmo, também mais acelerado, do derretimento dos glaciares e da calota polar do Ártico. E à medida que a água aquece, também se expande.

As Ilhas Marshall estão ameaçadas na sua própria existência, uma vez que estão apenas dois metros acima do nível do mar no seu ponto mais alto. Uma série de ilhas e países na mesma região podem desaparecer sob a água. As autoridades de Kiribati (também na Micronésia, onde o sal já contaminou quase toda a reserva de água doce) procuram uma região para onde toda a população se possa mudar — “imigração digna”, chamam a este plano para comprar terras para onde mudar toda a gente, 103 mil pessoas, na que será a primeira grande vaga de refugiados climáticos.

No conjunto de ilhas e atóis que formam as Marshall vivem 55 mil pessoas. O Governo não tem planos para mudar a população, prefere pressionar o mundo no sentido de travar os efeitos do aquecimento global. De Brum contou que, nos últimos meses, começaram também a surgir à superfície objectos enterrados há sete décadas: bombas e outro material bélico da II Guerra Mundial.     

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