Portugueses têm que contrariar a tendência para “manter o estado das coisas”, pede Cavaco

Presidente presidiu ao encontro FAZ – Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa

Emigração não tem que ser uma “perda irreversível para o país”, salientou o Presidente, que defendeu que Portugal deve “criar condições de atractividade para todos” – os que querem ficar e os que querem vir do estrangeiro.

Perante os “grandes desafios” que Portugal enfrenta actualmente, o Presidente da República considera que o maior risco que o país corre é propensão que os portugueses têm “para manter o estado das coisas” e a reserva com que encaram as novas ideias.

Cavaco Silva, que falava no encerramento do encontro FAZ – Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa”, realçou que Portugal atravessa uma “fase histórica de grandes desafios” depois de uma “experiência de dificuldades” que foi também um “percurso de aprendizagem, de adaptação a uma realidade com novas exigências”.

Por isso, perante o risco e a incerteza, é preciso que o país seja capaz de ultrapassar as barreiras, “encontrar soluções originais e explorar novos recursos”. Porém, para isso é necessário que os portugueses consigam contrariar algo que lhes é muito intrínseco, avisa o Presidente.

“A propensão para manter o estado das coisas, a procura sistemática da desculpabilização para evitar qualquer mudança e a reserva com que muitas vezes se encaram as novas ideias representam, elas próprias, o maior risco que corremos”, realçou o chefe de Estado perante uma plateia recheada de portugueses da diáspora, dispersos por quase quatro dezenas de países, sendo boa parte deles jovens empreendedores.

Numa altura em que saem do país mensalmente milhares de portugueses à procura de novas oportunidades no estrangeiro, Cavaco Silva prefere desvalorizar as vozes críticas e olhar as migrações como a consequência da “interdependência do mundo global”.

“Independentemente da condição económica do país, os portugueses continuarão a sair de Portugal, umas vezes por necessidade, outras por opção profissional, outras ainda por vontade de partir à aventura e à descoberta”, defendeu o Presidente, admitindo que muitos dos que saem hoje fazem parte da geração mais qualificada de sempre.

Mas nem a ideia da fuga de cérebros, como tem sido classificada por muitos faz Cavaco Silva considerar que este movimento migratório pode ser prejudicial para o país. “Devemos assumir uma visão serena e realista desta nova realidade do mundo global, recusando a ideia que a emigração representa necessariamente uma perda irreversível para o país. Temos, isso sim, de criar condições de atractividade para todos, para os que desejam ficar e para os que, estando no estrangeiro, aspiram a regressar e a viver em Portugal”, apontou o Presidente.

Até porque, salientou Cavaco Silva, “paradoxalmente, constata-se que os recursos humanos que produzimos são mais valorizados no exterior do que em Portugal”. O que o levou a deixar um conselho: “Impõe-se que aprendamos com a nossa diáspora, instaurando uma nova cultura de valorização do mérito e do talento. Em cada português existe um enorme potencial de realização.”

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