Duelo socialista pode arrastar-se para lá de Setembro

Seguro reúne hoje comissão política onde vai apresentar regras e calendários para primárias. Horas antes encontra-se com líderes distritais onde se trava a batalha dos apoios. Que já assume contornos caricatos.

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Seguro quer um OE "descontaminado" de inconstitucionalidades enric vives-rubio

O clima de guerrilha interna que se vive no PS pela disputa dos apoios já se reflecte nos pequenos pormenores. Paulo Pisco, o único eurodeputado socialista eleito pelo círculo da emigração, já foi alvo de uma penalização que põe em causa o trabalho que vinha desenvolvendo em prol das secções que o partido tem espalhado no estrangeiro.

Na disputa pela liderança no partido, que está mergulhada numa enorme crise interna, Paulo Pisco declarou o seu apoio ao presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, por entender que tem melhores condições para liderar o partido. A direcção do PS não gostou e não perdeu tempo a retaliar. Ontem contactou o eurodeputado para o informar que a partir de agora que deixava de poder usar o telemóvel que o partido lhe havia disponibilizado para contactar as secções da emigração.

Para além de eurodeputado, Paulo Pisco é também o presidente da comissão política concelhia de Serpa, no distrito de Beja e, nessa qualidade, convocou uma reunião para segunda-feira à noite na qual os elementos que integram aquele órgão se pronunciaram a favor da convocação de um congresso extraordinário electivo. Estava dado o apoio a António Costa.

Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Pisco recusou fazer qualquer declaração sobre o caso, manifestando até alguma insatisfação pelo facto de o incidente ter chegado à comunicação social. Fonte socialista lamentou a “atitude de retaliação” do PS, que impossibilita Paulo Pisco de contactar com as estruturas do partido no estrangeiro.

A mesma adiantou que a direcção e António José Seguro tinha ficado insatisfeito com a intervenção que o eurodeputado fizera sábado, no Vimeiro, onde decorreu a comissão nacional do PS, que ficou marcada pelo anúncio das eleições primárias. Paulo Pisco usou da palavra para manifestar o seu apoio a António Costa. A partir daí começaram - declara a mesma fonte – as recriminações a Paulo Pisco.

Entretanto, a batalha pelo partido prossegue. Depois de Portalegre e Castelo Branco terem já declarado, nas suas comissões políticas, o apoio à convocação de um congresso extraordinário, nas restantes estruturas vão sendo agendadas essas reuniões.

A estratégia segue uma táctica já definida. Agenda-se para discussão a análise dos resultados nas Europeias para depois se apresentar a debate a questão da realização de eleições directas e congresso.

Há comissões políticas distritais agendadas já para amanhã. Em Faro e Évora. Durante a próxima semana é de esperar que o mesmo aconteça em Porto (na segunda-feira) Vila Real, Braga, Leiria ou Aveiro.

A expectativa em relação ao processo varia. Um socialista que já teve responsabilidades nacionais assumiu ao PÚBLICO estar convencido que “já está quase tudo virado” para António Costa. Admite mesmo que antes da Comissão Nacional – que foi convocada pela facção costista para debater o congresso extraordinário de sábado a oito dias – haja já um  número suficiente de distritais (maioria de distritais que represente a maioria de militantes do PS) a propor aquilo que Costa pretende.

Alguns apoiantes de Costa continuam a fazer pesca à linha e mostrando-se satisfeitos com a receptividade que têm encontrado junto das bases do partido. A reunião de anteontem, que decorreu no Porto, juntou mais de uma centena de pessoas e foi muito aplaudida, particularmente quando o líder concelhio, Manuel Pizarro, anunciou que o presidente da Câmara de Lisboa estará amanhã no Porto para apresentar as bases programáticas com que se apresentará à disputa pela liderança do PS, seja através de eleições directas para o lugar de secretário-geral, seja de primárias para candidato a primeiro-ministro.

Mas nem todos os que estão ao lado de Costa estão tão optimistas. Um dirigente distrital avisa que a aprovação dos congressos federativos proposto por Seguro pode ter o efeito de congelar a actividade política nas distritais. E admite que não se consiga atingir a dupla maioria nas federações. “É muito difícil chegarmos às 11 distritais”, contabiliza. Também se afigura longínqua a possibilidade de Costa conseguir que a Comissão Nacional vote favoravelmente um novo congresso e novas directas. “A prioridade deve ser as eleições primárias”, sustenta antes de precisar que o importante é garantir que o “processo seja sério e honesto”. Ou seja, qual será o universo de votantes e como se vai avançar com o recenseamento de simpatizantes que Seguro pretende somar aos militantes nessa votação.

Do lado da direcção, impera o optimismo. “Vamos ganhar a comissão política e a comissão Nacional”, afirma um dirigente nacional. Hoje, o secretário-geral apresentará as suas regras e calendário para as primárias. Apontando o mês de Setembro como o momento da verdade. Com as eleições nas federações em Setembro e as primárias pouco depois.

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