Salgado reeleito chefe da área financeira do clã Espírito Santo até 2020

O GES continua em pé de guerra, o que está expresso no aparecimento de nomes para substituirem Salgado no BES. Depois de Ricciardi, Joaquim Goes, José Honório, João Pena e Brito e Cunha, são agora mencionados os de Vítor Bento para presidente do conselho de administração, não executivo, e Rui Horta e Costa para administrador financeiro.

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Ricardo Salgado foi afastado do BES pelo Banco de Portugal em Junho Nuno Ferreira Santos

Ricardo Salgado foi reconduzido na manhã desta sexta-feira por mais seis anos como presidente (não executivo) do conselho de administração da Espírito Santo Financial Group (ESFG), a holding financeira que concentra os interesses da família Espírito Santo (BES/Tranquilidade).

A decisão visa transmitir uma imagem de estabilidade accionista ao grupo familiar, mas que não chega para esconder o quadro de crispação e de intensas movimentações de bastidores que hoje se verificam dentro do seu universo e que visam condicionar a futura liderança do BES.

Os accionistas da ESFG (102 milhões de acções) reunidos na manhã desta sexta-feira no Luxemburgo, onde a holding tem sede, reiteraram (sem votos contra, nem abstenções) a confiança no chefe do clã, Ricardo Salgado, de 70 anos, e que nos últimos meses tem estado sob fogo cerrado de alguns dos seus primos mais novos.

Um deles, o presidente do BESI, José Maria Ricciardi, com 60 anos, já veio questionar publicamente a conduta de Salgado à frente do grupo, dando expressão a esse descontentamento. Uma divisão que se manifesta, aliás, no aparecimento de “listas” (verbais ou não) com nomes de potenciais substitutos da actual equipa de gestão do BES, que é o principal activo da ESFG. No final do aumento de capital do banco, em curso até 12 de Junho, a ESFG deverá reduzir a sua presença de 27,5% para 25% do capital (e o segundo maior accionista o Crédit Agricole baixará de 20% para menos de 15%).  

Para além do próprio Ricciardi, de entre os nomes que têm sido avançados (que podem configurar intenções firmes, experiências ou tentativas de destabilizar a solução final) para integrarem a nova gestão do BES, constam os de Joaquim Goes e de José Honório, um homem próximo do governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, que o pode ter sugerido. E se Joaquim Goes é um independente que há vários anos integra a comissão executiva de Ricardo Salgado, Honório é um gestor profissional com experiência no sector industrial e que, até ao final de 2013, era presidente da Portucel/Semapa (cujo dono, Paulo Queiroz Pereira, fez as denúncias ao BdP sobre as eventuais irregularidades no topo do GES).  

Depois de terem caído os nomes de João Pena (presidente da Rio Forte) e de João Brito e Cunha (filho de uma Espírito Santo), fala-se agora na possibilidade de os novos órgãos sociais do BES integrarem outros dois nomes: o conselheiro de Estado Vítor Bento, presidente da SIBS, ex-quadro do BdP e ex-presidente da Direcção-geral do Tesouro, e do gestor Rui Horta e Costa. Mas, segundo o PÚBLICO sabe, quer Bento, que seria presidente do conselho de administração, quer Horta e Costa, para administrador financeiro, desconhecem quaisquer acções que os envolvem. José Maria Ricciardi já veio negar estar envolvido em qualquer lista.

As indicações de que haverá mudanças de topo no BES surgem depois de várias inspecções realizadas às holdings familiares, a ESFG e a Espírito Santo International (ESI), nomeadamente por parte do BCE e do Banco de Portugal, assim como do supervisor financeiro luxemburguês (as duas sociedades têm sede naquele país). As avaliações detectaram várias irregularidades na gestão da ESI, que a colocaram numa “situação financeira grave” que se repercutiu na imagem reputacional do BES. Ainda que, numa primeira fase, o banco tenha sido ilibado de responsabilidades e que a ESFG (a maior accionista) tenha tomado medidas para o proteger de “eventuais situações de incumprimento por parte da ESI” as inspecções externas ao grupo familiar continuaram.

O segundo relatório de auditoria da KPMG confirmou as “irregularidades materialmente relevantes nas demonstrações financeiras da ESI [presidida por António Ricciardi], pondo em causa a completude e veracidade dos seus registos contabilísticos". E que consistem, por exemplo, na “não preparação de contas consolidadas, não contabilização de passivos financeiros de elevada dimensão, sobrevalorização de activos, não reconhecimento de provisões para riscos e contingências diversas, suporte inadequado de registos contabilísticos e transacções cuja forma não corresponde à respectiva substância”.

A KPMG indicou ainda que a ESI, em cuja administração Salgado é vogal, avançou com um plano de reorganização da sua governação. Um comunicado da ESFG lembra que a auditora externa concluiu agora que, para além da provisão de 700 milhões de euros que foi constituída pela holding no início do ano (por imposição do BdP), não será necessário tomar medidas de reforço adicionais. E que não existem quaisquer implicações ao nível dos resultados do BES. 

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