PS reafirma divergência com PCP sobre argumentos da censura mas vota a favor

Socialista António Braga critica comunistas sobre não pagamento da dívida e saída do euro e teoria das culpas da "política de direita" do país nos últimos 37 anos,

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Daniel Rocha

O PS tentou desmontar a aparente contradição entre a sua discordância de alguns argumentos comunistas para a moção de censura e o seu anunciado voto a favor justificando que o Governo deve ser censurado pela “estratégia de empobrecimento” e atitude de “revanchismo histórico e institucional”. As divergências em relação ao PCP não impedem os socialistas “de votar uma merecida censura às políticas do Governo”, apontou António Braga.

Com a bancada socialista fragilizada pela ausência, na maior parte do debate, do secretário-geral, coube ao deputado António Braga a difícil tarefa de defender a posição dos socialistas. António José Seguro entrou no plenário quando o seu deputado começava a falar.

“É provável que o Governo não saiba interpretar a mensagem que os portugueses quiseram transmitir nas eleições de domingo. Na verdade, este Governo continua sem saber interpretar grande parte do que se passou ao longo dos últimos três anos”, apontou António Braga, depois de criticar o que chamou de “truques de marketing” do executivo sobre a recuperação da economia quando o país está “mais pobre”, “mais endividado”, “mais velho” e “menos competitivo”.

“É por isso que este Governo, com a sua estratégia de empobrecimento, a sua análise errada do que se passou nos últimos três anos, e a sua atitude de revanchismo histórico e institucional, deve ser censurado”, defendeu António Braga.

O deputado socialista dedicou-se depois a tentar explicar o que o PS critica no texto do PCP. “Distanciámo-nos totalmente dos principais elementos fundantes dos considerandos da moção de censura do PCP por razões de verdade histórica e de divergência política”, justificou.

Em primeiro lugar, porque os socialistas não aceitam ser metidos no mesmo saco da “política de direita” que trouxe “retrocesso económico e social” nos últimos 37 anos. António Braga realçou as “conquistas institucionais” da escola pública, do serviço nacional de saúde e da segurança social pública, “concretizadas ou aprofundadas depois de 1977” e cuja construção “se deve em grande medida a vários governos” do PS.

A par disso, António Braga vincou que o PS se “demarca de várias soluções propostas pelo PCP”, como é o caso do não pagamento da dívida ou a saída do euro. Tais posições significam um “aventureirismo próprio de quem, na verdade, não tem um projecto de governação e, por isso, se sente dispensado de confrontar as suas propostas com a realidade”.

O PS, disse o deputado, sabe que a integração na União Europeia e no euro “obriga a cumprir compromissos colectivos” – como é o caso do Tratado Orçamental que o PCP e a sua moção rejeitam –, e que o actual quadro europeu “reduz a margem de autonomia política futura”.

Em contraponto ao abandono do euro e negação da dívida dos comunistas, António Braga salientou que o PS propõe renegociação das metas orçamentais, das condições de pagamento da dívida e mutualização de certas despesas sociais.

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