Imigração através do Mediterrâneo aumenta em relação a 2013

Dados da Frontex indicam que mais de 140.000 pessoas poderão tentar chegar à Europa até ao final do ano.

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A Marinha italiana resgatou mais de 1000 imigrantes na semana passada, incluindo 170 crianças Antonio Parrinello/Reuters

O número de cidadãos de países africanos, do Médio Oriente e da Ásia Central que tentam chegar a Itália através do Mediterrâneo aumentou consideravelmente nos últimos meses em comparação com o mesmo período do ano passado, avança a agência europeia responsável pelo controlo das fronteiras.

Os dados da Frontex indicam que entre Janeiro e Abril cerca de 41.000 imigrantes tentaram entrar na Europa através do mar Mediterrâneo, mais de metade dos quais partiram da Líbia.

No total, contando com outras rotas de entrada na Europa, terão tentado chegar ao continente cerca de 60.000 pessoas. Pelo menos 20.000 são cidadãos sírios, que fogem à sangrenta guerra civil que devasta o país há três anos, mas há também muitos afegãos e eritreus.

Se esta tendência se mantiver, o número de cidadãos de países africanos, do Médio Oriente e da Ásia Central que procuram melhores condições de vida na Europa depois de arriscarem a vida na travessia do Mediterrâneo até Itália, e através de outras rotas, pode ultrapassar os 140.000 – o total de 2011, ano da Primavera Árabe.

No mesmo período do ano passado, 1124 tentaram chegar a Itália só através da rota central do Mediterrâneo (12.430 no total de todas as rotas conhecidas); neste ano, esse número já chegou aos 26.650 (40.144 no total), segundo os dados da Frontex.

Os imigrantes que procuraram entrar por Espanha chegaram a 6838, maioritariamente marroquinos e argelinos. Já pela rota dos Balcãs o número atingiu os 19.951. No total, em 2013, foram detidas 107.365 pessoas por terem tentado entrar no continente europeu, segundo o relatório da Frontex publicado em 2014.

No início da semana passada, a Marinha italiana anunciou o resgate, em apenas dois dias, de cerca de 1000 imigrantes, incluindo 170 crianças. As duas embarcações de madeira foram encontradas ao sul da cidade de Capo Passero, na Sicília.

"Com a chegada dos meses de Verão, há uma forte probabilidade de os números aumentarem ainda mais", estima Gil Arias Fernandez, director executivo adjunto da Frontex.

Franck Duvell, professor na Universidade de Oxford, considera que o recente aumento deve-se ao facto de a principal rota de entrada ter reaberto há pouco tempo.

"A principal rota, através da Líbia, esteve fechada durante tanto tempo que as pessoas dos países subsarianos estão à espera há um par de anos. É por isso que os números têm aumentado, enquanto as pessoas esperam pela primeira oportunidade para saírem", disse à BBC o especialista, que lecciona no Centro sobre Imigração, Política e Sociedade da universidade do Reino Unido.

Não é possível antever se os números de 2011 vão ser ultrapassados, mas uma equipa da BBC que esteve na Líbia estima que cerca de 300.000 pessoas aguardam uma oportunidade para tentarem chegar à Europa.

Itália já fez saber à União Europeia que desde Outubro, quando lançou a operação Mare Nostrum, os custos do patrulhamento das suas águas mediterrânicas subiram para 300 mil euros por dia.

Outra situação que está a tornar-se insustentável vive-se nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, em Marrocos. Todas as semanas há notícias de grupos de dezenas ou centenas de imigrantes que conseguem saltar as barreiras que separam Marrocos dos enclaves.

A Melilla, por exemplo, chegaram esta quarta-feira cerca de 500 imigrantes de um grupo de 2000 que tentou atravesar a fronteira fortificada. O centro de acolhimento temporário de imigrantes naquele enclave acolhe mais de 2400 pessoas (tem capacidade para 4800).

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