Tropas russas estão a recuar, mas EUA denunciam chegada de tchetchenos à Ucrânia

Governo de Kiev declarou que os seus soldados “limparam completamente” uma parte do Leste e que ofensiva vai prosseguir. Putin disse que Ucrânia deve acabar com a “violência e derramamento de sangue”.

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Um elemento do Batalhão Vostok em Donetsk Iannis Behrakis/Reuters

As tropas russas estão a retirar da fronteira com a Ucrânia. Desta vez não é apenas o Governo de Moscovo a dizê-lo, são os EUA a confirmá-lo e a NATO a quantificar a saída de “talvez cerca de dois terços” dos soldados que têm permanecido na zona. Mas Washington manifestou preocupação com o facto de "militares da Tchetchénia treinados na Rússia" estarem a entrar no Leste do país, para combaterem ao lado dos separatistas.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, tinha confirmado a retirada russa quinta-feira à noite numa entrevista ao canal público PBS. O secretário-geral da aliança atlântica, Anders Fogh  Rasmussen, quantificou-a esta sexta-feira à Reuters. “Temos sinais pelo menos de uma retirada parcial”, disse. O número de soldados russos junto à fronteira estava calculado em 40 mil.

Na mesma entrevista, o chefe da diplomacia dos EUA disse ter "provas de que há russos a passar a fronteira, militares da Tchetchénia treinados na Rússia, que passam para o outro lado para agitar a situação, para se envolverem no conflito”.

O responsável norte-americano referia-se à admissão dos próprios separatistas de que os confrontos no aeroporto de Donetsk, na segunda e na terça-feira, contaram com a participação de "voluntários" russos. Na quinta-feira, elementos do Batalhão de Vostok, formado na Tchetchénia e que combateu na guerra da Geórgia sob o comando militar russo, ocuparam a sede dos separatistas em Donetsk, numa operação para estabelecer a ordem entre os combatentes, alguns deles acusados de pilhagens.

A presença de combatentes russos – e de outras nacionalidades – é um facto já confirmado no terreno, mas Moscovo mantém que não deu quaisquer ordens para tal, e que se há russos a combater no Leste, eles estão lá por iniciativa própria.

O facto de um helicóptero MI-8 das forças ucranianas. abatido na quinta-feira, ter sido atingido por um lança-mísseis portátil de fabrico russo, de acordo com as informações do Presidente em exercício, Oleksandr Turchinov, levou também a Casa Branca a exprimir a sua "inquietação", frisando que essa informação mostra que os separatistas têm "material sofisticado".

Apesar das críticas a Moscovo, Kerry disse ter "esperanças" de que a situação se normalize nos próximos tempos. "Falei ontem [quarta-feira] com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia [Sergei Lavrov]. Eles manifestaram a esperança de que possa haver uma forma de dar um passo em frente. É claro que nesta situação não bastam palavras; é preciso agir", disse o responsável norte-americano. O governante apelou ainda à Rússia para que "construa um caminho em que os ucranianos sejam uma ponte entre o Ocidente e o Leste".

Os chefes da diplomacia dos dois países voltaram esta sexta-feira a falar ao telefone. Segundo o ministério russo dos Negócios Estrangeiros, Lavrov “apelou aos EUA para encorajarem as autoridades de Kiev a […] cessarem imediatamente as operações militares e a começarem negociações directas com as regiões do sudeste”, indica um comunicado citado pela Reuters.

“Limpeza” de uma parte do Leste

O ministro ucraniano da Defesa, Mikhailo Koval, insistiu na acusação de que a Rússia está a realizar “operações especiais” no país e anunciou que a ofensiva vai prosseguir. Declarou também que as tropas de Kiev “limparam completamente” uma parte do Leste de rebeldes pró-russos.

Na quinta-feira à noite, o Presidente eleito da Ucrânia, Petro Poroshenko, prometeu "punir os terroristas e bandidos" que abateram o helicóptero, o terceiro desde o início do mês, matando 12 militares, entre os quais um general do Exército.

"Devemos fazer tudo para garantir que outros ucranianos não morram às mãos dos terroristas e dos bandidos", disse Poroshenko, referindo-se às milícias separatistas da região Leste do país. Na mesma comunicação ao país, citada pelos jornais ucranianos, afirmou que "os criminosos" que abateram o helicóptero das forças ucranianas foram "destruídos".

Numa conversa  telefónica que manteve esta sexta-feira com o seu homólogo francês, o Presidente russo, Vladimir Putin, falou da necessidade de as autoridades de Kiev acabarem com a “violência e derramamento de sangue” e avançarem para negociações com os rebeldes do Leste.

Outro dos motivos de preocupação no Leste da Ucrânia é o desaparecimento de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Esta sexta-feira, a organização disse ter perdido contacto com uma equipa detida quinta-feira à noite em Severodonetsk, na região de Lugansk. Outro grupo de quatro observadores está desaparecido desde segunda-feira na região de Donetsk.

O designado primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexandr Borodai, disse que não tinha qualquer informação sobre os observadores cujo paradeiro é desconhecido há mais tempo. "Não sabemos onde eles estão, e estamos a procurá-los. É possível que se trate de uma provocação para nos acusar falsamente de os termos detido", disse Borodai, citado pela agência AFP.

Horas depois, outro líder separatista, Viacheslav Ponomarev, que se apresenta como presidente da Câmara de Slaviansk, admitiu que foram detidos pelos rebeldes pró-russos, e que seriam libertados "em breve".

No final de Abril um grupo de sete observadores esteve alguns dias detido em Slaviansk. Já esta semana, durante algumas horas, outros 11 estiveram na mesma situação.

Apesar das acusações à Rússia, de interferência militar, a Ucrânia mantém com Moscovo negociações, que deverão prosseguir na próxima semana, sobre o fornecimento de gás russo.

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