O lado visual da liberdade

Uma exposição distribuída por sete espaços do Porto – A Liberdade da Imagem: Design e Comunicação Visual em Portugal (1974-1986) – mostra como o 25 de Abril criou uma nova cultura visual.

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"Delacroix no 25 de Abril em Atenas", 1975, de Nikias Skapinakis DR
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"A Vontade Popular", 1974, desenho de Armando Alves, cartaz para o Movimento Democrático Português
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Jornal "A Capital", 25 de Abril de 1974
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O Povo Está com o MFA, desenho de João Abel Manta, cartaz para o Movimento das Forças Armadas
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Revista "O Século Ilustrado", de 1974
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Livro "O Superman", 1979, desenho de Augusto Cid
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Revista "Gaiola Aberta – Barricada na Cozinha", 1975, desenho de José Vilhena

A exposição A Liberdade da Imagem: Design e Comunicação Visual em Portugal (1974-1986), que se inaugura na quinta-feira em sete espaços portuenses, dá a ver alguma da produção visual portuguesa mais representativa do período que se inicia com o 25 de Abril de 1974 e se prolonga até 1986, data da adesão à então Comunidade Económica Europeia.

Cartazes, autocolantes, maquetas, jornais, livros ou discos convivem com pinturas, fotografias, poemas visuais, mas também com instalações e vídeos, e ainda com objectos que não foram criados com nenhum intuito estético, mas que contribuem para documentar a época em causa, como um saco de trigo da primeira colheita pós-reforma agrária.

Promovida pelo Governo no âmbito das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e co-produzida pela Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos e pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto, a exposição é comissariada por Guta Moura Guedes e tem curadoria de José Bártolo, que optou por uma estrutura em diversos núcleos, sem um pólo assumidamente central, o que convida os visitantes a traçar os seus próprios percursos, quer físicos, indo de um pólo a outro, quer conceptuais. E “esta noção de percurso” adequa-se também, sugere Bártolo, ao “atravessamento entre momentos históricos, campos disciplinares e media” que a exposição propõe.

Os materiais foram distribuídos pela Casa Museu Guerra Junqueiro, Casa do Infante, Museu Romântico, Palacete dos Viscondes de Balsemão e Galeria Municipal Almeida Garrett. Este último núcleo tem um papel menor, já que aqui se tratou sobretudo de aproveitar o facto de já ali estarem patentes, na exposição A Poesia está na Rua, os originais dos icónicos cartazes comemorativos do 25 de Abril criados pela pintora Maria Helena Vieira da Silva.

A estes cinco locais, somam-se ainda a Casa da Música, onde está exposta uma célebre escultura em madeira de José Aurélio, Portugal Novo – ou uma reconstituição dela, já que a original ardeu –, e a Fundação de Serralves, também com uma única peça, a instalação de fotografia e texto Olympia, de Ernesto de Sousa, um artista e teórico central nas vanguardas dos anos 70 e que está presente em vários outros momentos desta exposição.

A inauguração está prevista para as 18h, na Casa Museu Guerra Junqueiro (CMGJ), com a presença do ministro do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, e do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que depois visitarão todos os outros espaços. O núcleo da CMGJ tem a particularidade de incluir uma espécie de miniatura da própria exposição, uma amostra breve de todo o tipo de materiais que se poderão depois encontrar nos diferentes locais.

Além desta síntese, que partilha o espaço com a exposição permanente da CMGJ, o edifício acolhe ainda um núcleo dedicado a peças que, diz José Bártolo, “representam já uma contaminação entre o design e a arte contemporânea”, obras “muito representativas dos anos 70”, como as latas com slogans de Emília Nadal, as colagens de Ana Hatherly, materiais da célebre exposição Alternativa Zero, que Ernesto de Sousa promoveu em 1977, ou a instalação Tecno-labirinto (1979), de Silvestre Pestana.

No Palacete dos Viscondes de Balsemão, podem ver-se, por exemplo, os cartazes de João Abel Manta para as campanhas de dinamização cultural do MFA e, entre muitas outras peças, a maqueta de um mural ou a arte final para a capa do álbum Coro dos Tribunais, de José Afonso, ao lado do disco.  

A Casa do Infante foi reservada para instalações sonoras, vídeos e outras obras multimédia, e no Museu Romântico, explica o curador, concentra-se uma selecção mais documental, destinada a “contextualizar o período”. Revistas, jornais e outros documentos, mas também, adianta Bártolo, objectos muito diversificados, como um prato comemorativo do 25 de Abril ou uma marioneta de Mário Soares.

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