Um grande retrato

Por um milagre de sorte pode ler-se online, de graça, o melhor perfil de um escritor contemporâneo que já li este século. O escritor – Edward St. Aubyn – é bom e o jornalista – Ian Parker – também é. Mas a peça é exemplar por conter todos os elementos que um perfil deve ter.

Foi publicado no New Yorker de anteontem. Claro que Ian Parker pôde entrevistar St. Aubyn várias vezes, incluindo em casa dele. Contou também com a ajuda de Oliver James, o inteligente psicólogo que é amigo de St. Aubyn (e filho do psicanalista que viria a ajudar o escritor a sobreviver).

Parker dispôs do tempo e das condições invejáveis que são dados a todos os jornalistas do quadro do New Yorker. Mesmo assim, o trabalho é formidável. Não me lembro da última vez em que li um perfil tão interessante e completo naquela revista. Talvez seja por isso que a ofereçam grátis no site deles. Lê-se um trabalho destes e apetece logo assinar a New Yorker, que, à parte os cartoons, está cada vez mais previsível, confortável e repetitiva.

Parker leu muito bem todos os romances de St. Aubyn (incluindo os três fraquinhos) e, cruzando-os com grande inteligência e coragem literária, com as entrevistas e o conhecimento dele do meio social britânico e do mundo literário londrino, chega a conclusões brilhantes sobre a obra e a vida de St.Aubyn.

Parker tem, como jornalista, a mesma honestidade e intensidade analítica que St. Aubyn tem como escritor. A combinação é profundamente incisiva.

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