Os vencedores e os vencidos da noite eleitoral

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Enric Vives-Rubio

VENCEDORES

 António José Seguro
 Apostou tudo nestas eleições. Quase sempre ao lado de Assis, imprimiu à candidatura aquilo que o candidato não tem: empatia com as  pessoas e uma palavra para as consolar – alternativa. Colou as europeias à situação do país, procurando capitalizar a segunda vitória  do PS desde 2011, com as legislativas no horizonte. Mas nada foi suficiente para imprimir à coligação que suporta o Governo a estrondosa derrota que o PS desejaria. Seguro ganha, mas por pouco. Resta saber o que fará com esta curta vitória e que contas o seu partido irá fazer. 

 Jerónimo de Sousa 
 Foi um dos vencedores da noite, confirmando a trajectória ascendente vinda das autárquicas. Com a esquerda mais partida do que nunca  – um Bloco frágil em lista e liderança, uma Alternativa Socialista sem rosto nem programa e Rui Tavares a desaparecer na bruma  -, o PCP surgiu como o único partido consistente à esquerda do PS. A proposta de sair do euro foi arriscada, mas ajudou a capitalizar o descontentamento. Não é a maior vitória de sempre nas europeias, mas é certamente um grande passo na liderança de Jerónimo de Sousa. 

 António Marinho e Pinto
 A sua notoriedade e o discurso justicialista e anti-político capitalizou muito acima das expectativas. O antigo bastonário da Ordem dos  Advogados fez uma campanha de estúdios, participou em programas da manhã, virados para os idosos, desempregados e domésticas.  E fez incursões cirúrgicas a locais onde as grandes candidaturas tinham agenda, fazendo notar a diferença de estilos de fazer política. Sem arruadas nem bandeiras, não precisou de fazer muito para captar os votos dos descontentes com o sistema partidário. Bastou dar a cara.

VENCIDOS

 Passos Coelho/Paulo Portas 
 A coligação do Governo sai derrotada, mas não sofre nenhuma humilhação. O calendário ajudou: no último mês, Passos e Portas  apostaram tudo em mostrar os resultados da governação: anunciaram a saída limpa que festejaram repetidamente, exibiram a tímida  recuperação da economia e apresentaram uma estratégia de longo prazo sem muito más notícias. A estratégia de Paulo Rangel e Nuno Melo de apontar o dedo à pesada herança socialista e socrática ajudou. Mas o CDS tem o seu pior resultado de sempre em europeias, ao eleger só um deputado. 

 Catarina Martins/João Semedo 
 O BE sofre uma derrota avassaladora. Se a lista não continha estrelas, a culpa também não é de Marisa Matias. A liderança bicéfala é  uma sombra da de Francisco Louçã. Mas a indefinição do Bloco enquanto partido já vem do tempo de Louçã e foi levando à saída de  figuras emblemáticas. O abandono de Rui Tavares a meio do mandato no Parlamento Europeu pesou. E em plena campanha, o anúncio do apoio de Joana Amaral Dias ao PS deu a estocada final. O BE tem de se repensar, se não quiser submergir de vez nas próximas legislativas.

Rui Tavares
É um dos maiores derrotados da noite. A meio do mandato cortou com o partido que o elegeu, mas só nos últimos meses parece ter-se apercebido que era preciso um partido para se manter no Parlamento Europeu e isto não se faz a correr. Podia ser sido um protagonista alternativo num Bloco à procura de rumo. Preferiu ajudar à polarização da esquerda. Tavares ajudou a puxar o Bloco para o fundo da tabela eleitoral sem conseguir ganhar (quase) nada com isso. É o contraponto de Marinho e Pinto, mas no seu caso, uma andorinha não fez a Primavera.

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