Moção de censura servirá para “clarificação” do PS, diz Jerónimo de Sousa

Numa arruada concorrida no Barreiro, o líder do PCP acusa PS de não querer “derrotar a direita; quer é entender-se com ela”.

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Uma arruada a sério no Barreiro para a CDU José Maria Ferreira

Mais do que um apelo aos socialistas para que venham a apoiar uma eventual moção de censura dos comunistas ao Governo, Jerónimo de Sousa diz que a moção servirá para “exigir uma clarificação” dos partidos políticos com representação parlamentar, ou seja, do PS.

Durante uma arruada concorrida no Barreiro, território confortável dos comunistas, o secretário-geral do PCP defendeu que será preciso “tirar ilações” do resultado das eleições europeias de domingo. E uma das ilações que “tem que se tirar é quem quer de facto travar esta política, derrotar este Governo e quem não quer”, apontou Jerónimo de Sousa, sem nomear o PS. O mesmo PS que, apontaria depois, “não quer derrotar a direita; quer-se entender com ela para prosseguir, no essencial, a mesma política

“Não estamos a colocar qualquer obrigação a nenhum partido político com representação parlamentar. O que estamos é a exigir uma clarificação”, vincou Jerónimo de Sousa enquadrado por bandeiras, camaradas e o hino da CDU. E espera o apoio do PS nessa moção? O líder do PS não está crente. "Um apoio não digo, mas uma clarificação é necessária porque o PS gosta de se assumir como oposição. É verdade que não tem feito grande coisa para fazer frente a esta política e a este goervno tendo em conta os seus compromissos anteriores. Mas de qualquer forma é um momento que seria de clarificação."

O líder do PCP recusou no entanto quantificar o quão expressiva tem que ser a derrota da direita para que a moção de censura avance. “Não quantificamos, mas há um ponto de partida: o Governo teve uma maioria absoluta [somados PSD e CDS-PP]. O que vai acontecer no dia 25? Veremos.”

Jerónimo defendeu ainda que estas eleições têm “inevitavelmente um significado nacional e se esta maioria PSD/CDS, que teve uma maioria absoluta, [tiver] uma votação que já não corresponder a essa expressão da vontade dos portugueses, naturalmente nós consideramos que deve ser não só censurado mas demitido, e devolver a palavra ao povo português”.

Questionado pelos jornalistas sobre o papel do Presidente da República, o líder comunista disse “não confiar em grandes rasgos” de Cavaco Silva porque “ele continua identificado e é cúmplice com esta política que o Governo está a realizar”. Jerónimo de Sousa desvaloriza o inevitável chumbo de uma moção de censura no Parlamento, realçando que uma moção “tem sempre uma dimensão política e, seja qual seja o resultado, partindo destes resultados eleitorais, a censura política vai exigir que cada um clarifique a sua posição”.

Neste derradeiro dia de campanha, a CDU anda por terrenos confortáveis. Começou com uma concorrida arruada no Barreiro que juntou Jerónimo de Sousa, João Ferreira, Luísa Apolónia, dos Verdes (que compõem a coligação CDU com o PCP e a ID - Intervenção Democrática), e o deputado Bruno Dias.

Um copinho de Moscatel e bolinhos secos
O percurso não foi grande e fez-se depressa, com escassas paragens para cumprimentar apoiantes, incluindo uma senhora que se abraçou de repente a Jerónimo de Sousa e o beijou despudoradamente na cara, apanhando-o desprevenido.

E ainda uma pequena paragem técnica para reabastecimento. Numa esquina perto do mercado, Mariano Vargas, militante do PCP, chamou Jerónimo e João Ferreira para um copinho de Moscatel e um bolinho seco. “Ó João, eu não te disse que íamos meter mais dois?”, diz o reformado ao cabeça de lista que beberica o vinho doce. Depressa toda a gente também quer um golinho do Moscatel e um bolinho. “Eu passo aqui todos os dias e nunca me ofereceste nada!”, atira uma senhora a Mariano Vargas.

Aos 78 anos, já reformado da Caixa Geral de Depósitos, Mariano tem poiso certo todos os sábados numa esquina da Avenida Alfredo da Silva, abrigado pelas arcadas dos prédios. Ali vende livros da edições do PCP – há vários escritos de Álvaro Cunhal na pequena banca que hoje também trouxe – e o jornal Avante!, “o jornal da verdade”, descreve. E aponta para cada palavra do placard, lendo-o pausadamente para dar mais importância à mensagem: “Às quintas-feiras, notícias de quem trabalha e luta por um Portugal com futuro. A televisão mostra, os jornais não dizem.”

Hoje lembrou-se de trazer "um miminho" para os representantes do partido, "porque eles merecem", afirma convicto. Sabe uma das máximas de cor: "O nosso secretário-geral é o maior, e o João Ferreira também. Foi o que fez mais intervenções lá no Parlamento Europeu e os outros só as fazem a prejudicar o país e quem trabalha", vai dizendo enquanto se vira para o lado e para o outro a atender às solicitações de camaradas.

Ainda com o mesmo despacho entusiasmado com que serviu o Moscatel por cada copinho de plástico branco que lhe estendiam e deu uma palmada nas costas de João Ferreira, Mariano Vargas realça que já dissera há muito ao candidato que “tinha fé” de que vão eleger quatro deputados. “Vai ser um crescimento de 100%.” E agora as sondagens dão-lhe alguma razão… “Eu não vou com as sondagens, sei por aquilo que oiço e vejo nas pessoas. Os votos no domingo é que contam. Mas sei, por mim, que vão ser quatro”, diz, com ar assertivo.

Enquanto o cabeça de lista almoçou com funcionários da câmara de Palmela, onde elogiou a luta dos trabalhadores contra a imposição do aumento do horário semanal de 35 para 40 horas, o líder do PCP sentou-se à mesa com os trabalhadores da Valorsul, em São João da Talha (Loures). Ao fim da tarde, juntam-se para uma arruada na baixa de Lisboa, com início marcado para o Chiado, pouco depois de os socialistas também terem descido aquele bairro lisboeta. O programa conjunto inclui ainda um jantar em Almada e um comício de encerramento, mesmo até à contagem decrescente para o dia de reflexão, no Seixal.


 

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