Estado arrecadou mais 612 milhões de euros pela venda da Caixa Seguros à chinesa Fosun

Valorização dos activos em carteira nas seguradoras compradas pela Fosun fez melhorar o encaixe de 1038 milhões que estava previsto.

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O BCG, o banco espanhol da CGD, deverá voltar este ano a registar prejuízos, dada a exposição à Pescanova filipe arruda

O Estado arrecadou, com a venda de 80% da Caixa Seguros à Fosun International Limited, cerca de 1650 milhões de euros, mais 60% do que a quantia inicialmente referida pelas autoridades, apurou o PÚBLICO durante a visita oficial do Presidente da República, Cavaco Silva, à China que terminou este domingo em Macau. A Caixa geral de Depósitos (CGD), a entidade vendedora, anuncia amanhã as suas contas do primeiro trimestre de 2014

A cerimónia de transferência das acções da Caixa Seguros (80% do capital) para a posse do fundo de investimento chinês ocorreu na passada quinta-feira em Pequim, no Grande Palácio do Povo, e na presença dos chefes de Estado dos dois países, Cavaco Silva e Xi Jinping.

O negócio foi formalizado pelos presidentes do vendedor, José Matos, presidente executivo (CEO) da CGD, e do comprador, Guo Guangchang, que detém 58% da Fosun. Em cima da mesa está a possibilidade da companhia chinesa, que passará a dominar 30% do mercado segurador português, construir em Lisboa a sua sede europeia.

Recorde-se que quando o Governo anunciou o vencedor da privatização da Caixa Seguros o valor de venda avançado era de 1038 milhões de euros, menos 612 milhões de euros do que o montante que o Estado acabou por arrecadar.

Um fonte envolvida na operação explicou que a revisão em alta do valor do negócio resultou da valorização dos activos em carteira nas seguradoras alienadas, nomeadamente, o preço dos títulos de divida pública portuguesa, mas também de acções europeias e de obrigações do Grupo CGD. A Fosun financiou-se junto da banca chinesa.

No processo de privatização da Caixa Seguros a proposta da Fosun foi a mais elevada, pois incluiu a Caixa Poupança, com uma carteira de títulos de dívida pública portuguesa, o que o fundo norte-americano Apollo Management International não aceitou.Em 2010, três avaliações à Caixa Seguros apontaram para valores entre 2000 milhões e 4000 milhões de euros.

Esta é a terceira privatização a dar entrada a grupos chineses em grandes empresas portuguesas. Entre eles, estão dois estatais: a China Three Gorges, que comprou 21% da EDP, e a State Grid, que adquiriu 25% da Redes Energéticas Nacionais - REN. 

Na passada quinta-feira, Guo Guangchang, de 48 anos, assumiu a liderança do conselho de administração da Caixa Seguros, que terá um modelo de governação diferente. Em comunicado enviado aos trabalhadores, o novo presidente da companhia seguradora (Fidelidade/Multicare) comunicou que “o conselho de administração adoptou uma diferente forma de organização, em linha com a prática corrente em muitas empresas de maior dimensão, passando a integrar membros não-executivos e membros executivos”.

As seguradoras ficaram também a saber que Jorge Magalhães Correia se manterá em funções como presidente da comissão executiva, “na qual é delegada a gestão corrente e a representação da sociedade.” O Conselho de Administração passa a contar com 14 elementos, sete dos quais chineses, enquanto a comissão executiva terá quatro gestores.

João Nuno Palma (administrador executivo (CFO) da CGD) é um dos dois vice-presidentes não-executivos do Conselho de Administração, ao lado de Magalhães Correia. Vão ser criados, ainda, um Conselho Consultivo, que integrará Eugénio Ramos e Vasco d`Orey, e uma comissão de investimentos para "apoiar, agilizar e supervisionar as decisões de investimento” que as empresas efectuarem.

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