Reacções entusiásticas de quem já viu o novo filme de Abel Ferrara

O filme de Abel Ferrara com Gérard Depardieu e Jacqueline Bisset estreia-se em Cannes para muito poucos. Na imprensa, já há críticas ao filme que se inspira no caso judicial de Dominique Strauss-Kahn.

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Welcome to New York

Welcome to New York não vai passar na selecção oficial do Festival de Cinema de Cannes, mas numa tenda montada na praia, onde apenas cerca de 100 jornalistas poderão entrar. À projecção do filme, às 21h (hora local), segue-se uma conferência de imprensa onde estarão presentes Abel Ferrara, Gérard Depardieu e Jacqueline Bisset.

 Depois disso, à meia-noite, o filme terá estreia na internet, onde pode ser comprado e visto por sete euros em sites como iTunes, Orange, Canal Play, Video Futur, Filmo Tv ou Google Play. Esta foi a estratégia de distribuição do filme adoptada para França, onde o filme não passará em nenhuma outra sala para além da tenda de Cannes. Apesar do número restrito de pessoas que vão poder assistir à projecção de  Welcome to New York em Cannes, alguns realizadores e críticos de jornais dos Estados Unidos e de França já viram o filme.

O trabalho de Abel Ferrara e a interpretação de Gérard Depardieu são destacados pelos críticos que já viram o filme. Para o realizador argentino Gaspard Noé, um dos que também já o viu, “Ferrara está no auge. Depardieu explode com tudo”, disse à revista francesa Le Film Français acrescentando que o resultado é um filme “emocionante” e corajoso.

Paolo Sorrentino, realizador italiano vencedor do óscar para melhor filme estrangeiro com o filme A Grande Beleza (2013), diz que este filme é “brilhante” e que Depardieu está grandioso e Milos Forman, que já conta com dois óscares de melhor realizador por causa de Voando Sobre um Ninho de Cucos (1975) e Amadeus (1984), diz que é o “melhor filme” que Ferrara já fez. Também o director do festival de Veneza, Alberto Barbera, dá o seu sim ao filme: “É um filme para pegar ou largar. Eu pego”, afirmou.

A estas reacções entusiásticas juntam-se as da norte-americana Variety, que escreve que a “inacreditável performance de Gérard Depardieu” é a grande provocação de Welcome to New York e do Hollywood Reporter, que descreve o filme como escandaloso, hilariante e ousado.

Com uma opinião completamente oposta, há o francês Le Nouvel Observateur, que logo no título apelida o filme de "obra de arte sem valor", tudo porque a agitação mediática que anunciou Welcome to New York como um escândalo não conseguiu "maquilhar a mediocridade do filme", lê-se no jornal fancês.

Menos efusivo, o jornal francês Le Monde faz uma análise detalhada do filme. A sua conclusão: “Se por um lado Welcome to New York apaixona, por outro, ele é tosco e tão suicida como a sua personagem [Deveraux, interpretado por Depardieu], que alterna os momentos magníficos com outros desajeitados, correndo o risco de se sabotar a si mesmo.”

O jornal francês dedica algum espaço à interpretação de Gérard Depardieu, que participa em várias cenas de sexo e orgias em que a sua exposição é grande. “Literalmente nu, Depardieu entrega o seu corpo de mastodonte à câmara, a sua barriga imensa, a sua cara contraída pelos orgasmos ogrescos que exige continuamente. É escandaloso.”

Para lá deste lado grotesco e simultaneamente poderoso que Depardieu cria, o Le Monde destaca a segunda parte do filme, em que, na prisão, Devereaux não é mais que aquele “corpo imenso e patético, privado do poder”, é “uma fera numa jaula”.

A par de tudo isto, há os factos desta história, que Ferrara sempre se esforçou apresentar uma ficção a partir de factos. Ainda assim, pelo menos o mapa dos eventos está lá. Ferrara chegou mesmo a filmar no apartamento que Anne Sinclair alugou em Nova Iorque durante todo o caso, em 2011.

O casal que, apesar dos nomes fictícios, é o protagonista de Welcome to New York, Dominique Strauss-Kahn e Anne Sinclair, agora ex-mulher do antigo director do FMI, ainda não fez qualquer declaração à comunicação social sobre o filme de Ferrara. O produtor do filme, Vincent Maraval, no entanto, contou ao Journal du Dimanche, que um amigo do casal o avisou de que Anne Sinclair ia “usar toda a sua fortuna para o destruir”.

Nesta entrevista, o produtor dá mesmo a entender que Strauss-Kahn e Sinclair terão feito os possíveis para boicotar a distribuição do filme – nas diversas entrevistas que Abel Ferrara, Gérard Depardieu e Vincent Maraval têm vindo a dar desde que se iniciou a rodagem do filme, afirmam ter havido muita resistência no financiamento e distribuição do filme em França e que essa é umas das razões por que optaram pelo visionamento on demand.

Apesar do silêncio de Strauss-Kahn e de Sinclair, o jornal francês Le Monde adianta que os advogados dos dois estão no encalço do filme: querem vê-lo o mais rapidamente possível e passá-lo a pente fino. O jornal escreve que em França é muito difícil declarar uma obra como ofensiva sem que se faça prova de que ela foi vista pelos ofendidos e que, ainda assim, “os tribunais em geral são muito reticentes à ideia interditar a difusão de uma obra (ou a publicação, se se tratar de um livro)”.

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