O que está em jogo nos exames

A discussão em torno de exames é há muito um desporto nacional e quando em causa estão crianças entre os nove e os 12 anos todos os queixumes se exponenciam e todos os preconceitos ganham direito a certezas inquestionáveis.

Com o recuo das teses que recusam liminarmente os exames enquanto método de avaliação, é natural que a oposição à sua existência se prolongue através dos problemas logísticos ou se apoie em práticas de alguns professores e escolas que são manifestamente exageradas. Convém reconhecer que este passo é já por si um avanço significativo. E útil. Agora que os exames deixaram de ser vistos como uma aberração que afrontava a dignidade da infância, vale a pena identificar, discutir e corrigir os muitos erros que lhe estão associados. 

Só uma atitude equilibrada perante os exames permitirá despi-los dos preconceitos que muitos pais, alunos e professores mantêm em relação à sua importância real. E em particular o preconceito dos que os vêem como uma apologia da competição e um atentado ao “desenvolvimento integral das crianças”. O desenvolvimento “integral” da criança não dispensa o domínio da matemática nem do português – como não dispensa a experiência das artes ou da liberdade de pensamento. Se para lá chegar as crianças tiverem de se sujeitar à “pressão” dos exames, que mal haverá? Não será esse afinal um treino fundamental para os exames (ou testes cruciais) que terão de fazer no futuro? Se educar é, também, uma forma de preparar as crianças para a vida, é fundamental que pais e professores concordem que a vida nem sempre é feita de harmonias celestiais. Ter a noção da importância de desafios que é necessário superar, preparar-se para eles e saber gerir uma dose tolerável (e ajustável à idade) de pressão é um exercício útil. 

O problema acontece quando toda esta discussão na aparência simples dá origem a obsessões como as que parecem estar a acontecer em muitas escolas. Se conceder alguma solenidade ao momento dos exames não é em si um erro grave, transformá-los no momento crucial de um ano inteiro de trabalho é um disparate. Largar actividades normais apenas para forçar a aprendizagem acelerada das matérias dos exames é não só um erro como um erro provavelmente inútil em termos de resultados. Parar as escolas para evitar ruído capaz de perturbar a “concentração” das crianças só serve para acrescentar ao momento dos exames tensão desnecessária.

De uma vez por todas, era bom que os exames em que vão participar 220 mil crianças de crianças portuguesas pudessem entrar na rotina do ano escolar sem o dramatismo que tende a colocar os resultados e as médias acima de tudo, nem suspeitas de agressão aos direitos da infância. Os pais e os professores devem aproveitar o momento da sua realização como mais uma etapa importante do processo de aprendizagem e de formação. Querer ir além ou querer ficar aquém destes limites é pura perda de tempo e um mau serviço à educação. 

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