Último debate entre candidatos à presidência da Comissão Europeia foi o mais animado

Schulz avisou que qualquer nome que não seja um dos candidatos não terá uma maioria no Parlamento Europeu. E afirmou com humor a uma das entrevistadoras: “o próximo presidente está aqui e está a falar consigo”.

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Os candidatos que estiveram no debate desta quinta-feira: Alexis Tsipras, Franziska Keller, Martin Schulz, Jean-Claude Juncker e Guy Verhofstadt JOHN THYS/AFP

O sexto e último debate entre os candidatos indicados pelas cinco maiores famílias políticas europeias à sucessão de Durão Barroso na Comissão Europeia foi talvez o mais animado e aquele que permitiu uma verdadeira discussão entre os intervenientes.

Apesar disso, nenhuma ideia verdadeiramente nova emergiu do confronto entre o luxemburguês Jean-Claude Juncker, candidato dos conservadores do PPE, o socialista alemão Martin Schulz, o liberal belga Guy Verhofstadt, a verde alemã Ska Keller e, pela primeira vez, o grego Alexis Tsipras, da esquerda europeia.

Realizado nas instalações do Parlamento Europeu e transmitido por mais de 40 estações de televisão e outras tantas rádios, o debate processou-se essencialmente em inglês, embora Juncker e Tsipras tenham preferido exprimir-se sempre em francês e em grego, respectivamente, com tradução simultânea para inglês, o que perturbou um pouco a dinâmica do debate.

Um dos cinco candidatos espera vir a ser escolhido pelos líderes da União Europeia como o próximo presidente da Comissão, se a sua federação de partidos sair vencedora das eleições europeias de 22 a 25 de Maio. Isto porque mesmo se cabe aos chefes de Estado ou de Governo dos 28 escolher o futuro presidente, a decisão terá de ter em conta o resultado das eleições e o escolhido terá de ser votado no PE.

As sondagens continuam a apontar o PPE como a maior família, com uma votação um pouco superior a 200 deputados (num total de 751 eleitos) embora com uma diferença cada vez mais curta, por vezes de apenas 4 deputados, dos socialistas.

Se assim for, Juncker espera suceder a Barroso, embora a sua escolha esteja longe de ser automática e esteja sobretudo dependente da composição da futura maioria parlamentar. A especulação cresce, aliás, em torno da ideia de que que nem Juncker nem Schulz serão o próximo presidente porque os dois maiores partidos terão obrigatoriamente de se coligar para constituir uma maioria parlamentar estável, o que poderá provocar a anulação dos dois chefes de fila e levar à escolha de um nome consensual para os dois grupos.

Por enquanto, os cinco candidatos rejeitam qualquer solução deste tipo. “Impensável que seja alguém fora dos candidatos, afirmou Verhofstadt. “Será uma negação da democracia”, confirmou Juncker. Keller foi mais prudente: “há uma possibilidade elevada que um de nós seja o presidente da Comissão”.

Schulz avisou por seu lado que qualquer nome que não seja um dos candidatos, não terá uma maioria no PE. E afirmou com humor a uma das entrevistadoras: “o próximo presidente está aqui e está a falar consigo”.

Verhofstadt foi, como sempre, o mais enfático e entusiasta, reiterando o seu projecto de um salto em frente na integração europeia, com o aprofundamento do mercado de capitais, digital e energético, enquanto motor de crescimento económico. O belga compara o seu projecto com a “dinâmica de Jacques Delors” (ex-presidente da Comissão Europeia) cujo projecto do mercado interno em 1985, permitiu vários anos de crescimento económico e emprego.

Schulz insistiu, como sempre, na necessidade de colocar os interesses dos cidadãos à frente dos interesses dos especuladores e dos bancos, acusando-os das dificuldades económicas e sociais actuais dos europeus.

Juncker defendeu, por seu lado, a necessidade de acabar com a divisão da Europa entre Norte e Sul provocada pela crise e de fazer com que os europeus possam voltar a apaixonar-se pelo projecto europeu.

Tsipras centrou o discurso na gestão da crise do euro e da Grécia, com a ideia de saída do euro, o que motivou uma reacção intempestiva de Verhofsatdt sobre os enormes custos que essa solução representará para os cidadãos. Tsipras também acusou os três maiores grupos de serem responsáveis pela subida dos movimentos eurocépticos por causa da sua ênfase na austeridade.

Juncker reagiu, dizendo que a Grécia não se pode queixar de falta de solidariedade da zona euro e que ele próprio, enquanto primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do Eurogrupo, fez tudo para a manter na moeda única.

Tsipras foi igualmente a única voz discordante sobre a necessidade de reforço das sanções contra a Rússia se a escalada na Ucrânia prosseguir, considerando que constitui uma nova edição da guerra fria.

A ideia dos grandes partidos políticos de apresentarem candidatos à sucessão de Barroso inscreve-se numa tentativa de estabelecer uma ligação entre o que as pessoas votam nos seus países, nas eleições europeias, e a escolha do presidente da Comissão Europeia, esperando assim aumentar a taxa de participação eleitoral que, em 2009, se ficou nos 43%.

“As pessoas sentem que o seu voto não muda nada”, justificou Keller, frisando ainda que as instituições europeias suscitam desconfiança. Para Verhosfatdt, as pessoas só irão votar se houver políticos capazes de defender a Europa com outros argumentos além da manutenção da paz.

Tsipras considerou que o desencanto dos europeus resulta do “défice democrático” da Europa, citando a título de exemplo, os governos de “banqueiros” “impostos” pela Europa em Itália e na Grécia.

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