Este país também não é para bebés

Foto
Menos nascimentos, mais óbitos e saldo migratório negativo levam a diminuição da população Daniel Rocha

À perda populacional por via das migrações, a troika deixou um outro saldo negativo: o da natalidade. Em 2013, houve menos 23.756 nascimentos do que mortes. Nasceram apenas 82.787 bebés. No ano anterior, o alarme já soara alto por ter havido menos 17.771 nados-vivos do que óbitos. A tendência começara a desenhar-se nos anos anteriores, e, no balanço entre nascimentos e óbitos, o país “perdeu” 47.519 pessoas em apenas três anos, entre 2011 e 2013.

O que leva o geógrafo Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa, a concluir que a troika deixou o país “pior em todos os sentidos” foi o ritmo a que tudo isto se deu. “Quando há capital de esperança, dinâmica económica e superavit migratório, como a seguir ao 25 de Abril e no período mais animado dos anos 90, a fecundidade e a natalidade têm saldos positivos”, começa por recordar. E o contrário também é verdade, ou seja, “nos contextos muito depressivos, na forma como se olha para o país e para o mundo, os valores caem abruptamente”.

Para o investigador Rui Pena Pires, o saldo natural vai continuar a diminuir. “A taxa de feminização da emigração actual é muito alta. Nalguns destinos, como o Reino Unido, as mulheres até estão em maioria”.

Quanto à comissão multidisciplinar que o líder do PSD incumbiu de, até Junho, apresentar propostas de incentivo à natalidade, Malheiros não se mostra optimista: “Parece-me uma comissão marcada por uma lógica de retoma da natalidade através de um pensamento conservador”, opina. 

Sugerir correcção
Comentar