A Naifa em Lisboa: “Nos próximos anos, a cultura em Portugal vai ser bastante martirizada”

As Canções d’A Naifa chegam nesta sexta-feira a Lisboa, ao palco do Tivoli. Uma forma afiada de cantar Portugal.

Foto
A Naifa Miguel Madeira

A Naifa é um grupo habituado a digressões, um dos mais “on the road” entre os agrupamentos portugueses. Fundado há dez anos, o grupo a que pertenceu João Aguardela (1969-2009) e que é composto por Mitó Mendes (voz), Luís Varatojo (guitarra portuguesa), Sandra Baptista (baixo) e Samuel Palitos (bateria) corre com frequência o país e já começou há uns anos a tocar em palcos no estrangeiro (Europa, Leste europeu, África, Macau). O seu mais recente disco, As Canções d’A Naifa, todo ele composto de versões de temas alheios habitualmente cantados no final dos seus concertos, serve de base à digressão que chega nesta sexta-feira a Lisboa, ao palco do Tivoli (21h30).

Gravado em 2013, o disco inclui nove temas, por esta ordem: Sentidos pêsames (GNR), Subida aos céus (Três Tristes Tigres), Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto (Vitorino), Alfama (Mler If Dada), A tourada (Fernando Tordo), Libertação (Amália Rodrigues), Imenso (Paulo Bragança), Desfolhada portuguesa (Simone de Oliveira) e Inquietação (José Mário Branco). E nasceu de um percurso antigo, como nos explica Luís Varatojo: “Acaba por ser um pouco o aproveitarmos o trabalho que já temos feito ao longo do tempo e de recuperar coisas como A tourada, que só tocámos em 2005, ou Sentidos pêsames, ou ir buscar o Bolero do Coronel Sensível, que só tocámos quatro vezes. E reunir esse trabalho que já tínhamos num disco.”

Mas o que os levou à gravação foi uma canção que não cantavam nos espectáculos, Inquietação. “É um caso à parte. E foi ela que fez surgir este disco. No início de 2013, o Canal Q convidou-nos a fazermos uma versão dessa canção que, como se sabe, é o hino do canal. Como gostamos da canção, aceitámos. Mas quando gravámos fizemos a contabilidade às versões e eram dez. E se gravássemos isto tudo? Foi um repente.”

Eram dez mas gravaram nove. “A que ficou de fora era a Cerimónias, do Psicopátria, mais uma dos GNR. E ficou de fora por isso, porque já tínhamos outra dos GNR.”

O alinhamento “foi rápido”: “Teve a ver com o facto de as canções soarem bem umas depois das outras, eu ainda gosto de ouvir um disco de uma ponta à outra. Isso tem também a ver com a temática e as dinâmicas das canções, é um guião para o ouvinte.”

E é um guião também para olhar a sociedade portuguesa hoje, com as suas limitações. “Há um aperto na cultura, os teatros (que é um circuito que conhecemos bem, é lá que tocamos) estão a minguar, a fechar, a ficar sem meios e eu acho que nos próximos anos a cultura em Portugal vai ser bastante martirizada, pior do que já foi antes.”

Depois de ser apresentado em Lisboa, As Canções d’A Naifa estará a 17 de Maio no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha. Mais uma paragem para o grupo manter, como sempre faz, o contacto com o seu público. No seu site oficial e no YouTube há dois vídeos: A tourada e Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto. Uma forma de “ver” o que há aqui para ouvir, embora não substitua o palco, onde se revelam por inteiro.

Sugerir correcção
Comentar