Os rostos inocentes das escravas do terror

A única linguagem que o Boko Haram conhece é a do terror, e a sua "ideologia" é a das trevas.

A mobilização internacional para encontrar as jovens estudantes raptadas na Nigéria deu nisto: ontem foi divulgado um vídeo, por iniciativa dos raptores, tentando mostrar que não lhes fizeram mal e que até as “libertaram”, convertendo-as ao islamismo. O vídeo aparenta ser uma montagem; as raparigas, mais de uma centena, surgem ao ar livre a recitar o Corão, e as três únicas que falam fazem-no para dizer que mudaram de religião — uma delas já era muçulmana — ou que não foram maltratadas; e o líder do grupo extremista Boko Haram, Abubakar Shekau, ocupa 17 dos 27 minutos gravados (nunca é visto junto às raptadas, pelo contrário, é filmado contra um pano verde) a dizer que as “raparigas se tornaram muçulmanas” e a propor, apesar disso, a sua troca por militantes seus detidos na Nigéria. Depois de ameaçar tratá-las como escravas, vendê-las no mercado ou casá-las à força, Shekau joga agora o trunfo da “moeda de troca”. Se não resultar, e a Nigéria já disse que não resulta, pois não aceitará qualquer troca, é bem provável que cumpra alguma das ameaças anteriores ou execute uma outra: o assassínio. A única linguagem que o Boko Haram conhece é a do terror, e a única ideologia que professa, alegando ser o islamismo, é a das trevas. O estado islâmico que se propõe criar no Norte da Nigéria não é um estado islâmico, é uma recriação das mais sangrentas ditaduras onde os homens são forçados a uma obediência total sob ameaça de morte e às mulheres é negado todo e qualquer direito, a começar pelo direito ao conhecimento, a estudar. É isso que faz o Boko Haram invadir escolas, assassinar rapazes e raptar raparigas. A sua disposição para negociar é um ardil, tal como o dos taliban no Afeganistão. O que os move é a submissão pelo terror dos que tiverem a desventura de lhes cair nas mãos. Por detrás do rosto das raparigas do vídeo, não há “libertação”, mas um desmesurado medo, o medo das escravas do terror.

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