Eurocépticos podem ter maioria dos votos em Itália

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Beppe Grillo poderá receber o voto de um quarto dos eleitores italianos Giorgio Perottino/Reuters

Mais de metade dos eleitores italianos poderão votar em partidos com discurso eurocéptico: isto se juntarmos partidos que defendem abertamente um referendo ao euro, como o Movimento 5 Estrelas, do comediante Beppe Grillo, ao Força Itália, do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que encontrou na UE um bode expiatório para os males de Itália e fez desta linha a sua campanha, à Liga Norte, que extremou o discurso anti-UE, a par do discurso anti-imigração, para estas eleições.

O sentimento de desilusão com a União Europeia é grande em Itália: 53% dos italianos não se sentem cidadãos da União Europeia, segundo o Eurobarómetro. Ainda que a maioria continue a apoiar o euro, essa é uma maioria cada vez menos – hoje apenas 53%, muito menos do que os 73% que o faziam nos anos 1990.

Ainda assim, analistas sublinham que o partido mais votado, segundo o que prevêem as sondagens, é o Partido Democrático (PD) do primeiro-ministro, Matteo Renzi, com 32,2%. Enquanto Grillo está com 25,4% (Poll Watch), e segue-se a Força Itália, com 19,2%. A Liga Norte aparece com 5,3%.

Renzi tem defendido a Europa, mas não a abordagem da União Europeia à crise, martelando na necessidade de permitir crescimento e estímulo do consumo interno.

O partido de Grillo quer o fim da política de austeridade, a introdução de eurobonds (ou seja, a mutualização da dívida de todos os países do euro), e um pacote de ajuda para o Sul da Europa semelhante ao Plano Marshall para a Alemanha do pós-guerra. Quer, para além disso, um referendo à permanência da Itália no euro.

O euro está rapidamente a transformar-se no bode expiatório para as dificuldades económicas de Itália (40% de desemprego jovem, por exemplo) e o efeito é que a campanha está a debruçar-se como nunca nas questões europeias justamente numa altura em que o apoio ao projecto europeu parece estar num mínimo.

O partido de Berlusconi está a fazer campanha com o slogan: “Mais Itália na Europa, menos Europa em Itália.” A Liga Norte tem o mote “Basta euro” e tenta reafirmar-se (a votação prevista é metade da que obteve nas últimas europeias). “Os nossos movimentos na Europa – a Liga, Le Pen, Ukip – vão conseguir ter 200 eurodeputados. Não vai ser Grillo a conseguir este tipo de impacto”, disse o líder do partido, Matteo Salvini.

Contra esta descrença geral, o Presidente, Giorgio Napolitano, deu uma entrevista na TV pública para sublinhar os méritos da União Europeia: “Às vezes há a impressão de que para muitos a Europa é apenas a política de austeridade dos últimos cinco anos. Mas a Europa nasceu há 60 anos e o seu maior objectivo foi garantir a paz no coração da Europa”, defendeu.

A este cocktail junta-se uma desconfiança nas instituições e nos políticos em geral, para a qual contribuiu ainda um escândalo recente: na semana passada foram detidos nove responsáveis da Expo 2015 em Milão, acusados de subornos e manipulação de concursos públicos. Analistas dizem que, apesar de não envolver ainda políticos no activo (embora entre os detidos estejam antigos deputados), pode ser uma prenda para o partido anti-establishment de Beppe Grillo. 

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