Área de milho quase triplicou na zona do Alqueva em apenas três anos

O milho disputa espaço e importância com a plantação de olival, mas o seu crescimento está condicionado pelo custo da água e as oscilações de preços no mercado mundial.

Foto
Água do Alqueva é essencial para a cultura do milho na região Rui Gaudêncio

A mancha verde alimentada pelas águas de Alqueva cresce à medida que novos blocos de rega vão ficando concluídos. Depois de um arranque cheio de indecisões e cepticismo, a plantação massiva de olival intensivo e superintensivo alterou, profundamente e em meia dúzia de anos, extensas áreas antes ocupadas por culturas de sequeiro.

Pela primeira vez desde os anos 60 do século passado, concretizou-se o objectivo de Portugal voltar a ser auto-suficiente em azeite, mas a mancha de olival em Alqueva determinante neste objectivo que se estende por cerca de 20 mil hectares estabilizou, ao mesmo tempo que a cultura de milho se multiplica. A área semeada deste cereal passou dos 2700 hectares em 2011 para 6882 hectares em 2013.

O presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), José Pedro da Costa Salema, invoca as potencialidades que estão a concentrar no regadio de Alqueva o interesse crescente dos produtores de milho: abundância de terra, de água e radiação solar, elementos fundamentais para este tipo de cultura que se expressam através de “boas searas três anos seguidos” e, nalguns casos, com produtividades acima das 20 toneladas por hectare - o que ”nos fez entrar no campeonato mundial” das elevadas produções deste cereal, segundo Costa Salema.

Contudo, o custo da água, associado às oscilações constantes que ocorrem no mercado mundial de cereais, são factores de instabilidade que colocam dificuldades num futuro próximo à sustentabilidade da cultura.

Luis Vasconcellos e Souza, presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis), realça o peso da cultura que já se posiciona como a “segunda maior na região do Alqueva”, onde ocupa uma área regada de 18%, “superior a outras culturas arvenses” e susceptível de crescimento continuado nos próximos anos.

O obstáculo maior a este objectivo “está no preço da água”. A solução no futuro terá de passar por “conjugar o potencial de Alqueva com o potencial económico resultante da produção de milho” no novo regadio, ou seja, a cultura consome em média, sob o efeito das elevadas amplitudes térmicas características da região alentejana, entre 7 a 8 mil metros cúbicos de água por hectare, tornando proibitivo o acesso à água.

Se não houver uma reformulação do tarifário aprovado pelo Ministério da Agricultura em 2010, o seu consumo nas culturas de milho sofrerá uma forte redução e nestas condições será “difícil” manter o milho no Alqueva nos anos em que os preços deste cereal se apresentarem baixos, antecipa Vasconcellos e Souza.

António Parreira, presidente da Associação de Regantes e Beneficiários do Roxo, partilha os receios do presidente da Anpromis, lembrando que quando deixar de vigorar o preço controlado da água aprovado em 2010, os agricultores vão pagar cerca de 10 cêntimos por metro cúbico, “um valor incomportável” para a maioria das explorações de média e pequena dimensão. Em Abril de 2010, o ministro da Agricultura de então, António Serrano, estabeleceu um tarifário em que os agricultores pagariam, no primeiro ano, apenas 30 % do preço real da água, que seria aumentado progressivamente até ser atingido o preço real ao fim de seis anos.

Nos blocos de rega do Roxo já se verificou, em 2013, uma redução na área semeada de milho, dada a enorme oscilação de preços verificada. Dos 260 euros/tonelada pagos em 2012, os agricultores foram confrontados com uma redução para os 170 euros/tonelada em 2013. Em 2014, por força das convulsões sociais e políticas que se estão a verificar na Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais de milho, os preços que estão a ser pagos mesmo antes da nova campanha ter arrancado já rondam os 200 euros/tonelada, tornando viável a produção deste cereal.

Com efeito, a Ucrânia é o principal fornecedor de milho a Portugal, lembra Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo. Comentando as dificuldades associadas às tarifas da água, não comunga da posição critica expressa por outros dirigentes associativos, advogando o primado da ciência e da tecnologia para superar os constrangimentos colocados pelos preços da água.

As variedades de milho geneticamente modificadas seriam “uma alternativa, mas a Europa não aceita” - uma opção que Francisco Palma critica. Mesmo assim, confia que o futuro da produção de milho em Alqueva “está assegurado”, frisando que o preço da água não é obstáculo para os que encaram a cultura de “forma eficiente e profissional”.

Sugerir correcção
Comentar