O desapontamento

O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.

Nunca percebi bem como Seguro foi parar a secretário-geral do PS, na ressaca da derrota de 2011. Provavelmente, os bandos da casa, que Sócrates cuidadosamente desfizera, ainda se não tinham redefinido e armado e preferiram escolher por um tempo uma personagem inócua, incapaz de tomar sozinha conta do partido.

Mas, para seu mal há uma espécie de mediocridade tenaz que não se remove com facilidade. Seguro repetiu até agora os lugares-comuns que se esperavam dele, sem se enganar catastroficamente, apesar de algumas mudanças de estratégia que as circunstâncias pediam. Claro que, com o seu ar de menino de escola papagueando a lição, Seguro não entusiasma ninguém e muitos militantes desconfiam que ele não vai conseguir esmagar o CDS e o PSD, como acto preparatório para as legislativas.

Só que Seguro já despachou para a “Europa” os rivais que eram para ele um verdadeiro perigo (excepto António Costa), para evitar sarilhos no caso de um (sempre relativo) fracasso e para dividir as responsabilidades desse fracasso, se ele, por azar, acontecer. De qualquer maneira, o PS vive num dilema de que é difícil sair. Por um lado, precisa de evitar um radicalismo que o faça perder a confiança dos mercados e dos donos da “Europa”, porque sem eles não governará dois dias. E, por outro, precisa de amansar a opinião radical, desde o dr. Mário Soares, ainda uma grande influência, a umas centenas de “socráticos”, fracos mas persistentes, quE esperam a sua hora. Daí que Seguro balance entre uma atitude às vezes razoável e uma ocasional brutalidade contra o governo, sem objecto, nem consequência.

Sucede que o cidadão comum vê as coisas como elas são. Percebe, por exemplo, que o PS, se chegar ao governo, não lhe vai trazer nenhum alívio e que seguirá em grosso a política de Passos Coelho e Paulo Portas. Percebe que a esquerda do partido só serve para irritar os credores e para perder os votos de um eleitorado pacífico e, principalmente, farto de aventuras e de aventureiros. E percebe o perigo de confiar as finanças do Estado e uma economia exangue a um partido que vocifera contra os mercados e contra o que ele chama “neo-liberalismo”. Quem tem dinheiro debaixo da almofada não o arriscará um tostão (um voto) nos socialistas, notoriamente inclinados para trapalhadas de dinheiro e maus negócios. O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.

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