Estas são campanhas contra a corrupção e foram feitas por estudantes

Sete escolas recebem esta quarta-feira os prémios do Conselho de Prevenção da Corrupção pelas imagens e pelos vídeos criados como forma de denúncia para este problema.

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Alunos do curso profissional de Multimédia do Externato Infante D. Henrique, de Braga, ganharam o concurso Pedro Lima/NFactos

O dono do café tem toda a espécie de truques e fintas para evitar passar as facturas aos clientes. Finge que não ouve, troca os pastéis de nata de lugar, muda de canal na televisão. Palavras do próprio: sente-se uma espécie de Cristiano Ronaldo nesta estranha arte de iludir os clientes – e o Estado. Até que uma cliente lhe troca também as voltas. É assim que os alunos do curso profissional de Multimédia do Externato Infante D. Henrique, de Braga, apelam à “naturalidade” do acto de pedir factura, num dos vídeos distinguidos pelo concurso Imagens contra a Corrupção, cujos prémios são hoje entregues.

O homem das fintas também foi fintado. Quando o dono do café do vídeo dos alunos de Braga pede o número – de telefone, supõe-se – à cliente, esta dá-lhe o número de contribuinte. “Estávamos a falar das facturas e da necessidade de pedir sempre o número de contribuinte aos clientes e decidimos brincar um bocadinho com esta ideia”, explica Ana Borges, uma das alunas do 12.º F desta escola cooperativa, com contrato de associação.

A notícia do prémio chegou há duas semanas. O vídeo já tinha sido feito em Fevereiro, mas Ana esteve “sempre confiante” num triunfo. Foi ela quem teve a ideia para o argumento do pequeno filme, pensado como um vídeo de uma campanha publicitária com o qual venceram o prémio destinado a escolas do ensino secundário. Por isso, será Ana Borges quem vai subir ao palco do Auditório do Tribunal de Contas, em Lisboa, esta tarde, para recolher o prémio. Os outros quatro colegas do grupo que mais directamente trabalharam no projecto (Cátia, Andreia, Tiago e Ana Ferreira) também vão marcar presença, bem como toda a turma que, de uma forma ou de outra, foi parte da produção.

“É muito importante esta temática vir à escola e podermos ver o produto a nascer, tanto mais que é uma área em que podemos influenciar comportamentos”, comenta Pedro Miranda, professor de multimédia da turma e responsável pelo projecto. O vídeo da turma e todos os restantes trabalhos premiados estarão disponíveis para serem vistos no site do Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC), que organiza a iniciativa em colaboração com o Ministério da Educação.

Foi no ano passado que, pela primeira vez, o CPC desenvolveu o Concurso Imagens contra a Corrupção. José Tavares, director-geral do Tribunal de Contas (e por inerência secretário-geral do CPC), diz que a “grande valia” dos trabalhos foi de tal forma reconhecida que a Organização das Nações Unidas os disponibilizou no seu site, mais concretamente no United Nations Office on Drugs and Crime, no Dia Internacional contra a Corrupção.

Este ano repetiu-se o concurso que, para o CPC, é um “investimento na educação cívica” que pretende “sensibilizar e envolver as escolas públicas e privadas do país, agregando alunos, professores e famílias”. Objectivo: “Debater o que é a corrupção, que impacto tem e que efeitos nefastos.” O tema não é fácil para crianças, admite. Mas é possível. José Tavares diz que este deve ser “um trabalho diário e constante que permita pôr os alunos a reflectir sobre a corrupção”. E acha que nas escolas estão a conseguir fazê-lo. Ainda assim, são ainda poucas as participantes no concurso – já que cerca de 60 manifestaram intenção de apresentar um trabalho nesta segunda edição, mas apenas 18 o fizeram.

Além do Externato Infante D. Henrique, no ensino secundário foram premiados, com menções honrosas, a Escola Secundária Alves Martins (Viseu) e o agrupamento de escolas de Ponte da Barca. A escola de Braga foi também a mais bem classificada no concurso destinado ao segundo ciclo, com o vídeo Pastar na Corrupção, em que os alunos do 5.º ano apelam: “Não seja ovelha, denuncie.”

O Agrupamento de Escolas Alto dos Moinhos, de Sintra, venceu no 3.º ciclo do básico com um vídeo chamado Música com Flauta. A história é simples: uma rapariga vai tocando uma flauta, cada nota representa um problema – suborno, fraude, corrupção política. Os colegas vão encenando os problemas.

A edição deste ano do concurso Imagens contra a Corrupção abrangeu pela primeira vez o 1.º ciclo do ensino básico. Em vez de vídeos, os estudantes eram convidados a fazer um trabalho de artes plásticas. O vencedor foi o agrupamento de Escolas de Castro Marim, com uma pintura mural da turma do 4.º L, onde se reclama “Queremos crescer com honestidade”. Neste ciclo foi ainda atribuída uma menção honrosa ao Centro Escolar de Vila Nova de Foz Coa, pela adaptação e realização de vários trabalhos (desenhos, colagens, maquetes) à volta do conto “O príncipe feliz”, de Oscar Wilde.

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